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MADIT’25: Peixe impresso “é o futuro da alimentação”

Data de publicação
31 Outubro 2025
12:27

O Centro de Congressos da Madeira encheu-se para ouvir o terceiro orador do Madeira Innovation Talks 2025 (MADIT’25), o professor e investigador Frederico Ferreira, que trouxe à plateia um tema que juntou engenharia, biotecnologia e sustentabilidade alimentar: a criação de “peixe impresso” através da bioimpressão 3D.

Perante uma audiência repleta de estudantes, Frederico Ferreira explicou o trabalho desenvolvido pela sua equipa, um projeto que nasceu de uma cadeira de empreendedorismo e que hoje mobiliza cientistas, engenheiros e investidores de vários países. “Tudo começou com quatro alunos e uma ideia: criar um produto que combinasse ciência, inovação e responsabilidade ambiental”, contou.

A equipa, liderada por Ferreira, trabalha na engenharia de tecidos comestíveis, aplicando técnicas de bioimpressão e estimulação elétrica para criar filetes de peixe a partir de células cultivadas em laboratório. O objetivo é recriar a textura, o sabor e o valor nutricional do peixe real, sem necessidade de pesca nem de impacto ambiental associado à aquacultura intensiva. “Nós não fazemos comida no sentido tradicional. O que fazemos é engenharia: engenhar tecidos, desenvolver materiais condutores e reprodutíveis, capazes de gerar estruturas comestíveis e sustentáveis”, explicou o investigador.

O processo, segundo Frederico Ferreira, começa com a extração e cultivo de células de espécies como o robalo ou a cavala, que são depois multiplicadas em biorreatores. Segue-se a fase de bioimpressão 3D, na qual as células são combinadas com tintas biológicas — misturas de proteínas vegetais, polissacáridos de algas e microalgas — para reproduzir a textura e o sabor característicos do peixe. “O segredo está nas tintas. Elas dão sabor, consistência e vida ao produto. Usamos algas que libertam aromas oceânicos e criam aquele sabor a mar tão familiar”, referiu.

A equipa enfrentou inúmeros desafios técnicos. “Nada corre bem à primeira. Quando alguém diz que sim, está a mentir”, brincou o orador, arrancando risos da plateia. Uma das maiores inovações do grupo foi o uso de estimulação elétrica para reproduzir a contração muscular natural dos peixes. “Como não podemos pôr um filete de peixe a nadar, aplicamos estímulos elétricos para fortalecer as fibras e dar uma textura mais realista. É engenharia pura ao serviço da gastronomia do futuro”, acrescentou.

O resultado é um protótipo funcional de filete bioimpresso, que pode ser cozinhado e cortado como um peixe real. O projeto — apoiado por um consórcio europeu com 35 parceiros e um orçamento de 7 milhões de euros — visa tornar esta tecnologia aberta e acessível, com linhas celulares, meios de cultura e modelos biográficos disponíveis para universidades e empresas.

Mas o investigador lembra que o caminho ainda é longo. “Os desafios tecnológicos e regulatórios são grandes, mas o verdadeiro obstáculo será a capacidade produtiva. Se quisermos que uma em cada dez refeições inclua este tipo de proteína sustentável, teremos de repensar toda a cadeia de produção alimentar”, afirmou.

Para Frederico Ferreira, a revolução alimentar não depende apenas da ciência: “Nada disto serve se as pessoas não quiserem comer. Felizmente vivemos em democracia, e cada um escolhe o que põe no prato. O nosso papel é oferecer opções seguras, éticas e sustentáveis.”

Com o mote ‘Peixe Impresso? Tempera a tua inspiração’, a palestra encerrou com uma mensagem de curiosidade e otimismo: “a prova de que a engenharia, quando aliada à imaginação e à consciência ambiental, pode transformar a forma como o mundo se alimenta”.

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