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Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

27/09/2022 08:00

Objetivo 1: deitar fora.

Objetivo 2: arranjar espaço.

Dá-me para isto, de vez em quando. Venho munida de coragem e de sacos para o papel. Venho pronta para libertar espaço do passado para o futuro. E sento-me no chão, que é o lugar mais perto do fim, certa de que sim, que desta vez é que vai ser. E vou tirando os papéis, um por um, para que nada se perca neste processo. Tento (juro que tento) não perder tempo a olhar o que não precisa de ser olhado - o envelope com uma morada, um selo antigo, a fita que restou de um qualquer presente, um convite para uma exposição sem história.

As caixas do tempo sepultam sentidos: se guardamos o postal de boas festas foi que, nesse ano, ele significou mais do que um voto; se recortamos um artigo do jornal foi que, nesse dia, reconhecemos nele um valor importante. Estará aí - creio eu - o motivo pelo qual nos custa deitar fora esses guardados. São pedaços dispersos de uma história que nos fez quem somos. São memórias, textos inacabados, projetos impossíveis de romances que talvez um dia venham a ser escritos, agendas, fotografias, flores secas, vozes, muitas vozes que chegam vestidas de saudades, porque nunca deixaram de perguntar por nós. É a poeira dos lugares que já foram os nossos lugares: o bilhete do cinema, o desdobrável do museu, a pulseira do hotel, o mapa da cidade onde, um dia, encontramos o mundo.

Fico sempre enjoada, quando decido abrir as caixas que guardam o tempo. Acho que tem a ver com a viagem, como se mergulhar nos guardados nos fizesse embarcar com mar difícil. Bebo água para enganar o estômago, ou os vazios, ou a saudade. E decido guardar tudo outra vez e comprar uma estante nova.

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