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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

26/06/2022 08:10

Foi canonizado recentemente pelo Papa Francisco um dos grandes místicos contemplativos que, após uma vida dissoluta, fez esta oração: "A minha conversão partiu de uma estranha oração. Pedi àquele Deus no qual não acreditava, de fazer-se conhecer por mim, se verdadeiramente existia."

Encontrou-se com um sacerdote em Paris, o Padre Huvelin, que tinha visto no casamento de sua irmã, e depois foi seu diretor espiritual, após uma confissão numa igreja de Paris. "Se há alegria no Céu por um pecador que se converte, esta alegria encontrou-se quando entrei no confessionário...e desde aquele dia toda a minha vida foi uma cadeia de bênçãos."

Carlos nasceu na cidade francesa de Estrasburgo, com o título de visconde de Pontbriand, seu pai morreu quando tinha seis anos, foi educado por uma sua irmã e pelo ricaço avô materno que era coronel.

Foi educado pelos jesuítas em Paris, dos quais guardou boas recordações, onde se preparavam os jovens para a escola militar de São Cir, entrou na escola nas sem grande resultado. Tendo morrido o Avô, recebeu uma grande herança que dilapidou em pouco tempo. Vestia bem, comia melhor, frequentava companhias alegres e esbanjadoras, ao mesmo tempo retirava-se para ler os clássicos gregos e latinos, o predileto era Aristófanes, mas também Voltaire, Montaigne e até Ariosto. Ao terminar o curso ficou no último lugar!

Seguiu com o seu Regimento para a Argélia, então território francês, onde tudo andou mal, até foi castigado, seguindo depois para a Tunísia para deterem revoltosos. Não é fácil explicar como toda a sua vida mudou aos 22 anos. Surpreende, com bom humor, suportava fadigas e privações, era corajoso, amante dos riscos e perigos, os amigos já não o compreendiam. Deixou a carreira militar, mas estava fascinado com o mundo árabe, principalmente de Marrocos, com os espaços infinitos do deserto e os homens que o habitavam, porque se deitavam por terra nas areis voltados para o Oriente, para Meca? porque oravam tantas vezes, se Deus não existe! Frequentou em Algar a biblioteca do Museu da cidade, estudou as cartas e os instrumentos científicos. Os frutos da sua exploração científica, geográfica, militar e política, publicada em dois volumes valeram-lhe a Medalha de Oiro da Sociedade de Geografia de Paris.

Após a sua conversão escreveu: "Nos inícios da fé tive muitos obstáculos a vencer, eu que tinha duvidado tanto não acreditei tudo num dia; por vezes os milagres do evangelho pareciam-me incríveis, por vezes queria misturar as passagens do Corão nas minhas orações, mas a graça divina e os conselhos do meu confessor dissiparam estas nuvens".

Após a conversão pensou fazer-se monge, mas a família e o Padre Huvelin encorajaram-no a receber o matrimónio. Mas ele quis esperar dizendo: "Quando acreditei que Deus existia, não posso fazer outra coisa senão viver para Ele". A minha vocação religiosa data dessa mesma hora, Deus é tão grande! Há uma tal diferença entre Deus e tudo aquilo que não é Ele. Ao ouvir um sermão sobre a vida de Jesus, ficou radiante e disse: "Jesus Cristo ocupou de tal forma o último lugar que mais ninguém conseguiu tirá-lo". Percorreu os mosteiros mais austeros em França não encontrou o que queria. O Padre aconselhou-o a visitar a Terra Santa. Chegou a Jerusalém em dezembro de 1888 e passou o Natal de Jesus em Belém tendo participado na Missa da Meia Noite. Comoveu-se e alegrou-se com o princípio da sua peregrinação. Em Nazaré descobriu a existência humilde e obscura do operário divino. Foi um choque decisivo e uma resposta ao interrogativo que tinha posto no primeiro dia da sua conversão "que devo fazer?". Reconheceu o trabalho humilde e humilhante, fatigante e escondido de Jesus, era um pobre em Nazaré.

Retornou a Paris, viveu sete anos como trapista, mas não quis receber os votos, o seu coração ficara em Nazaré. Em Janeiro de 1697 chega a Jaffa, procurou trabalho nos franciscanos que o não acolheram como doméstico, seguiu para Nazaré para imitar Jesus na sua vida oculta viveu na cabana das arrumações do convento das Clarissas que o receberam como sacristão e davam-lhe o pão como alimento, orava sete horas por dia perante o sacrário, dormia sob o mesmo céu que Jesus, orava ao Pai por toda a Humanidade. Escreve ao Padre Huvelin que quer imitar Jesus no ministério sacerdotal. Retornou a Paris para receber o diaconado, já não era um eremita, mas "um pequeno irmão do Sagrado Coração" que vai passar o resto da sua vida no deserto de Tamanarasse, o Papa Francisco canonizou -o a 15 de maio de 2022 na Basílica de São Pedro em Roma.

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