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Artigo de Opinião

Directora Business Development

12/04/2024 08:00

Crescer com vista para o mar, tendo sempre como companhia a linha do horizonte, permitiu-me sonhar, sonhar muito e ambicionar conhecer os destinos que se encontravam para além da linha que parecia finita, mas que na verdade escondia um mundo inteiro por conhecer e explorar.

A pouco e pouco fui conhecendo um bocadinho mais do que estava para além do horizonte. A primeira viagem ao continente, a primeira saída do país, visitar grandes cidades que marcam o mundo, o contacto com outras culturas, povos, ideais, novos cheiros, valores pessoais, outras religiões e novas normas sociais. Senti-me muitas vezes pequenina, perante a grandeza e diversidade que o mundo tinha para oferecer. Mas ao mesmo tempo gigante e grata pela possibilidade de poder escolher o meu caminho, as minhas convicções e poder em liberdade defender os meus ideais.

Viajei sozinha pela Europa, levando sempre como companhia um livro, que me entretinha quando sentia-me mais só, ou onde escondia-me para poder ouvir as conversas que se desenrolavam por perto, muitas vezes em línguas que não conhecia, mas reconhecia as expressões que não precisam de tradução para serem entendidas. Durante as minhas viagens vi os sentimentos nos mais diversos olhares – uns ternos, uns tristes, uns alegres, uns apáticos, uns com esperança e outros com olhar de reflexão, porque existe todo um mundo de pensamentos dentro da nossa cabeça, que nos ocupa e nos comanda e que é importante alimentar de motivações positivas e muitas alegrias.

As viagens eram sempre muito ricas de emoções e de conhecimento, mas o viajar sozinho requer alguma cautela acrescida. Recordo-me de um episódio passado aquando da minha visita a Bruges, na Bélgica, onde tive de esconder-me numa casa de banho de um café local, durante uns bons 30 minutos, após a insistência desproporcionada de um rapaz marroquino, para que lhe desse a minha morada.

Hoje vivo numa grande cidade, onde sinto o pulsar do mundo a cada instante. Inúmeras línguas se cruzam num dia a dia frenético, em que o olhar também fala e não encontra barreiras. Respeitamos a diferença e valorizamos o espaço de cada um. Testemunhamos em primeira mão as boas e más tendências que o mundo adopta. A banalização da tecnologia em cada mão, veio acelerar a propagação da informação, das imagens, das conversas rápidas em que pouco se diz e em que expressámo-nos muitas vezes em bonequinhos (emojis), que supostamente transmitem o que queremos dizer que estamos a sentir, mas nem sempre reflecte o que realmente sentimos.

Atualmente sinto que o poder da imagem sobrepõe-se ao poder da palavra, numa forma de procurar a validação do “eu” que impera. Partilham-se imagens e vídeos, na esperança dos likes (gostos), que nunca são suficientes. Mas na ânsia da validação do “eu”, as imagens e vídeos passam a ser mais usados, as roupas que cobrem o corpo são cada vez menos e entra-se no campo da vulgarização do nosso corpo, que a meu ver, pode ser muito perigoso, quer em termos físicos, quer em termos psicológicos.

A banalização do ideal do corpo, aliado às redes sociais que promovem os encontros supostamente românticos, onde duas ou três mensagens rápidas, tentam substituir todo um processo de troca de olhares, sedução e sentimentos puros, facilitam o sexo descartável, completamente desprovido de princípios, compromissos, sentimentos e em muitas das vezes, sem proteção.

Somos um todo e a forma como tratamos, expomos e disponibilizamos o nosso corpo, terá um impacto na nossa saúde mental. O mundo está replecto de diferentes ideais sobre como devemos ou não agir com o nosso corpo - cabe a nós, a cada um de nós criar as nossas próprias regras de respeito para com o seu corpo e a nossa mente. Nesta nossa viagem chamada vida, viajamos muitas vezes sozinhos e temos que ter as nossas cautelas e recatos.

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