"O que importa não é a Igreja enquanto instituição, eu próprio sempre disse que não servi a Igreja Católica como instituição, porque não merece." As palavras são do histórico padre Martins Júnior, que hoje celebra a sua última missa na paróquia da Ribeira Seca, 53 anos depois.
Antes de entrar na igreja repleta de fiéis, Martins Júnior foi implacável com a instituição que o suspendeu durante quatro décadas, vincando: "uma igreja que me suspenda de padre, porque nem podia assistir à missa na igreja da vila, que respeito merecem estes hierarcas?"
"Eu servi o povo de Deus, não servi a Igreja Católica. Esta Igreja Católica como está não mereceria que a sirva", afirmou aos jornalistas, manifestando estar "descrente" com a instituição, ainda que eternamente grato à população que sempre esteve do seu lado e que em muito influenciou o seu regresso.
"Esta igreja é anti crística, antievangélica. O Vaticano é o muro da vergonha que esconde a verdadeira face de Jesus Cristo, ninguém tenha dúvida."
"É um dia de transição"
Instado a pronunciar-se acerca do resumo que faz destes anos ao serviço daquela paróquia, respondeu: "O balanço é viver e, enquanto soprar uma réstia de vida, tentar continuar a construir, tanto quanto possível, tanto quanto as nossas forças, talento e fragilidade permitirem".
"É um dia de transição. Tudo na vida é transitório", evidenciou.
O pároco lembrou, na mesma linha, que as nossas vidas, cada dia, são um episódio. Nesta alusão, referindo-se, a esta missa, como mais um encerrar de ciclo. Martins Júnior sublinhou ainda a alegria destes "53 anos", salientando a obra feita.
"O que se construiu cá, quer sobre o ponto de vista físico, arquitetónico. Quando cá cheguei, o montado vinha até cá baixo", disse, para reiterar a vertente de desenvolvimento.
Ainda assim, a "construção do edifício intelectual e espiritual das pessoas", conforme explicou aos jornalistas, é o que mais lhe interessa.
Catarina Gouveia