Um mês depois da derrocada que pôs a Fajã das Galinhas nos noticiários nacionais, o JM voltou ao sítio da freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, que é um dos mais recônditos da ilha, até desconhecido da maior parte dos madeirenses, arriscamos dizê-lo.
À entrada da Estrada José Avelino Pinto, onde o miradouro do Castelejo é atração turística, houve três coisas que nos chamaram à atenção: a ausência de uma placa toponímica, dois sinais de trânsito encavalitados (um de perigo de queda de pedras e outro de estrada sem saída) e um cartaz partidário, ali deixado de uma campanha eleitoral, onde se lê "Aqui não há saneamento básico".
Sobre a placa toponímica, uma moradora disse à nossa reportagem que chegou a existir uma, "em azulejo", mas que foi partida durante a construção do miradouro, não voltando a ser reposta. Não será de estranhar, por isso também, que o topónimo não apareça no Google Maps.
Ao percorrermos a estrada, cuja construção foi aprovada em reunião do Governo Regional em 1993 e ficou concluída em 1999 (de acordo com o Dicionário Corográfico de Câmara de Lobos), consegue-se perceber facilmente o receio de quem por ali passa diariamente.
Perigo eminente
Do lado esquerdo, o rochedo e as árvores impõem respeito. À direita, pedras de grande envergadura resvaladas para junto da berma, fazem-nos pensar sobre como e quando elas foram ali parar. E que sustos e trabalhos terão causado.
Da ocorrência do dia 16 de março, resultaram três feridos e danos materiais, em viaturas estacionadas na via pública, e o medo voltou a tomar conta dos moradores, sobretudo daqueles que sempre sentiram o perigo eminente de derrocadas, no único acesso ao local.
O local do incidente é fácil de identificar, pelas barreiras que ainda lá estão e pelos indícios de deslizamento de terras. Por um triz, uma casa não foi atingida. Sabe-se, que os moradores continuam realojados noutro local.
Enquanto observávamos a destruição não ficámos indiferentes aos traços de ruralidade e a uma descarga de lixo, por uma das encostas, que não dá bom cartão de visita ao local. E se esta reportagem tivesse banda sonora, poderia ser muito bem a da ‘orquestra’ dos animais fechados nos currais, composta pelos balidos do gado caprino e pelos roncos e grunhidos dos porcos.
O medo está a fazer com que algumas famílias queiram sair do lugar, mas não de qualquer maneira... Para além dos anseios, há quem tenha crescido neste sítio, do qual não quer sair. Uma reportagem a ler na íntegra na edição impressa deste domingo do JM.
Iolanda Chaves