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Artigo de Opinião

9/11/2025 07:35

O impacto psicológico das doenças graves é uma dimensão muitas vezes invisível do processo de adoecer. Quando se fala em cancro ou em outras patologias graves, a atenção costuma recair sobre o diagnóstico clínico e o tratamento médico. No entanto, a saúde psicológica também fica afetada.

Receber um diagnóstico de doença grave é um momento de rutura. De forma abrupta, a vida parece suspensa entre o “antes” e o “depois” e o futuro torna-se incerto. O medo, a ansiedade e a sensação de perda de controlo instalam-se. É uma experiência que não se limita à dimensão física, mas que atinge a identidade, as relações familiares e a perceção de si próprio.

Campanhas como o outubro Rosa e o novembro Azul destacam a importância da prevenção e da deteção precoce do cancro. O outubro Rosa promove a consciencialização sobre o cancro da mama e o novembro Azul foca-se no cancro da próstata e na saúde masculina, ainda envolta em tabus.

O sofrimento psicológico é uma consequência real e legítima, que precisa de cuidados com o mesmo rigor que o corpo. O impacto de um diagnóstico de doença grave provoca um turbilhão de emoções que pode ser compreendido através de diferentes reações emocionais, experienciadas de diferentes formas e intensidades.

A negação é geralmente a primeira reação. Surge como um mecanismo de defesa temporário, que protege o indivíduo da dor emocional intensa do choque inicial. A pessoa tende a minimizar sintomas, desconfiar dos resultados ou evitar falar sobre o diagnóstico.

Outras reações comuns são a raiva e a revolta. A pessoa pode sentir-se injustiçada e revoltada, com a vida, com os médicos ou consigo própria. São reações naturais à perda de controlo e à perceção da própria vulnerabilidade. Nalguns casos, a raiva vem acompanhada de culpa, quando o indivíduo acredita que poderia ter “feito algo” para evitar a doença.

Numa tentativa de recuperar o controlo sobre o que parece incontrolável, o indivíduo pode fazer promessas, procurar terapias alternativas ou acreditar que mudanças de comportamento poderão “reverter” a situação.

A tristeza é uma das reações emocionais mais frequentes. Quando a pessoa se dá conta da gravidade da situação, o medo do futuro e a sensação de perda tornam-se mais evidentes. Tem de lidar com o medo do desconhecido, a incerteza do prognóstico, as consequências do tratamento e a possibilidade de morte. Poderá ter sintomas de ansiedade, apatia, alterações do sono e do apetite.

A experiência de uma doença grave pode levar ao isolamento e, em muitos casos, as pessoas podem sentir-se incompreendidas ou distantes dos amigos e familiares.

Com o tempo, é possível aceitar a realidade, o que não significa resignação, mas uma nova forma de se relacionar com a doença. Nesta situação, verifica-se uma atitude mais ativa no tratamento e, nalguns casos, uma sensação de propósito renovado, gratidão e valorização da vida.

Importa reconhecer que não há uma maneira “certa” ou “errada” de reagir a um diagnóstico de doença grave. Cada emoção é válida e faz parte do processo de lidar com a doença, que exige tempo, escuta e empatia. O apoio de familiares, amigos e grupos de suporte pode oferecer conforto e encorajamento. O acompanhamento psicológico permite que o indivíduo expresse as suas emoções, reduza o sofrimento e reconstrua a confiança em si e nos outros.

A prevenção e a deteção precoce são vitais, mas cuidar da saúde mental é indispensável. A cura não é apenas a ausência de doença, mas a recuperação da dignidade, da esperança e do sentido de viver, mesmo perante a adversidade.

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