MADEIRA Meteorologia

Bordado Madeira é arte que não paga contas nem atrai jovens

Data de publicação
08 Março 2024
18:50

São cerca de 400 as bordadeiras atualmente no ativo na Região. Apesar do aumento de 6% determinado pelo Governo Regional para o trabalho das bordadeiras em 2024 relativamente a 2023, este continua a ser um ramo cujo retorno se revela insuficiente e pouco atrativo para as camadas mais jovens.

Esta perceção é obtida junto de algumas mulheres que trabalham desde novas neste setor, que neste Dia da Mulher são homenageadas com uma iniciativa a decorrer no Hotel Barceló Funchal OldTown. “O bordado dá muito trabalho e não é bem pago”, lamenta a bordadeira Eugénia Noronha, que considera que não se consegue viver apenas desta arte centenária, apesar das melhorias sentidas nos últimos anos.

“Se quiser fazer a minha vida, o meu dia a dia, e bordar na parte da tarde, levo de três a quatro dias para fazer três barras de toalhas. Sabe quanto é três barras de toalhas? É 10, 11 ou 12 euros”, justifica Eugénia Noronha, que borda desde os seis anos, altura em que acompanhava a sua mãe neste trabalho.

Fátima Cabral, que borda desde os 16 anos, considera que atualmente o Bordado Madeira é pago de forma mais justa a comparar com o antigamente, que “era uma tristeza”. Nestes 43 anos dedicados a esta arte, há trabalhos em que se sente valorizada, outros nem por isso. “Ganhamos mais um bocadinho agora”, refere, exemplificando que, ao fazer uma toalha que pode demorar até três meses, ganha cerca de 250 euros.

Apesar da exigência e precariedade desta profissão, confessa que nunca considerou desistir. “A minha mãe é que me ensinou, foi com ela que aprendi”, recorda, reconhecendo que “os apoios faltam sempre” e nem sempre recebe os trabalhos na quantidade que gostaria.

Por isso mesmo, “deviam valorizar mais as bordadeiras”, defende Fátima Cabral, que, ao contrário do que aconteceu consigo, não venceu na tentativa de passar a sua sabedoria para as filhas. “Elas não querem. Estudaram, têm os seus cursos, mas o bordado não”, acrescenta, sendo que as colegas pertencem, essencialmente, a uma faixa etária a rondar os 50 e os 60 anos.

  • Bordado Madeira é arte que não paga contas nem atrai jovens

Face às críticas, Marisa Santos, vogal do Conselho Diretivo do Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira (IVBAM), referiu que com este aumento “substancial” determinado de 6%, os produtores que solicitem serviços passam a ter de pagar às bordadeiras um mínimo de 2,24€ por 100 pontos. A reconhecer que este aumento “nunca é suficiente”, diz aos jornalistas que por agora não está previsto nenhum reforço, o que não significa que esta medida não possa ser revista no futuro. Contudo, aponta que “também cabe a cada casa de bordados” decidir se pagarão um valor mais alto do que o mínimo tabelado.

Quanto à questão de este não ser um trabalho que atraia a juventude, Marisa Santos diz que o IVBAM tenta realizar ações de formação com bordadeiras mais experientes para captar jovens, nas casas do povo e em outras instituições. Como resultado dessas iniciativas, “já existem algumas pessoas que criaram marcas para as quais confecionam e bordam os seus artigos”.

No que toca à saída destas peças, exportadas essencialmente para Itália e Estados Unidos, Marisa Santos diz que as casas de bordados na Região têm tido bastantes visitas, que, no entanto, “nem sempre se traduzem em vendas”.

Ofício que perdura pela paixão, persistência e empenho

Promovido pelo IVBAM em parceria com Barceló Funchal OldTown e a Associação Adoro.Ser.Mulher, a homenagem que contemplou a abertura de uma exposição, uma conferência e um mercado com marcas madeirenses, teve o desígnio de promover e impulsionar o empreendedorismo feminino.

Na abertura, a secretária regional do Ambiente e Agricultura, Rafaela Fernandes, felicitou todas as bordadeiras presentes na iniciativa, por preservarem esta arte que “perdura no tempo, muito pela paixão com que as bordadeiras fazem o seu trabalho”, conciliado com a vida de casa. “Este é um ofício difícil, que só é possível porque há uma persistência e há um empenho da vossa parte”, enalteceu a governante, acrescentando que “o mundo sem as mulheres é como um jardim sem flores”.

Apesar de estar prevista a presença do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, neste evento, outras iniciativas na agenda levaram a que a sua ausência acabasse por ser sentida.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas