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Artigo de Opinião

Psiquiatra

5/10/2022 08:00

Hoje falamos das decisões que afetam os outros e como a decisão de travar ou avançar é tão mais importante do que o indivíduo que a toma.

Comparemos esta decisão ao que acontece à fruta. O avançar do tempo, faz com que a fruta passe de madura a podre. Com o avançar normal, vemos a fruta por fora a apodrecer e podemos atuar rapidamente. Quando travamos o tempo na fruta (as maças refrigeradas em que o frio é utilizado para travar o tempo na maçã), ela apodrece por dentro e é bem mais difícil de ver.

Assim, também acontece na sociedade humana. Quando decidimos travar o avanço do tempo, por qualquer motivo que seja, apodrecemos por dentro. Apodrecemos sem ver e por isso, é quase impossível de corrigir o problema. Apodrecemos de tantas maneiras diferentes quando lutamos contra a única coisa inevitável da vida, a mudança. Tudo está sempre em constante mudança. Vemos ciclos de nascimentos e mortes, de saúde e doença, mas qual é a tentativa de grande parte da humanidade? De congelarmos os momentos, de pararmos o tempo. Mas parar o tempo é impossível e por isso ficamos agarrados a um passado que com o tempo, ou largamos, ou começa a apodrecer a nossa vida. Quando tentamos viver no passado, é inevitável que o presente e o futuro se degradem, porque a roda do tempo não pára para ninguém.

Na Madeira, a saúde mental está parada. E parece que assim vai continuar. Não há internamento hospitalar. Equipas comunitárias vão ser provavelmente desenrascadas para não se perder o dinheiro do PRR. Hospitais de Dia, reabilitação psicossocial, integração na comunidade com apartamentos e residências, empregos protegidos, ... aspirações de um futuro distante.

Acontecem ainda situações curiosas. Várias pessoas relatam-me que pagam o internamento. Curiosamente só as pessoas com subsistemas de saúde. ADSE, ADM, ... Essas pessoas aparentemente pagam pelo seu internamento psiquiátrico. Quer sejam internadas pelo privado ou pelo serviço de urgência, quer voluntário, quer compulsivo. Se de facto isto é verdade, só tenho um conselho para a dar às pessoas e famílias.

Não paguem.

O internamento de psiquiatria que ocorre na Madeira é igual ao resto do país. Se é no público ou no privado, as pessoas não têm culpa, nem escolha. Uma coisa é certa, todas as pessoas que são internadas pelo serviço de urgência, têm o direito a um internamento gratuito. Ou as coisas mudaram tanto e quem é internado na ortopedia e cardiologia tem de pagar? Todos os doentes têm os mesmos direitos e as entidades públicas têm acordos com as privadas, para garantir que são tratados com o mesmo respeito e direitos, como seriam se fossem internados no Hospital Dr. Nélio Mendonça ou no Hospital dos Marmeleiros.

Por tantos motivos em que a ilha força a paragem do tempo, anseio profundamente pelo momento em que a roda do tempo volta a girar na ilha da Madeira e pelo dia em que a Saúde Mental volta a ser digna comparativamente ao que se passa no resto do país. Aspiro a que os doentes da Madeira, tenham pelo menos os mesmos direitos que no continente. Nesse dia, o ar que respiramos junto ao mar, será tão limpo como o ar que respiramos no Paúl da Serra, pelo menos o ar que respiramos pela Saúde Mental.

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