Da autoria de Adelino Amaro da Costa, este excerto resume na perfeição aquilo que mais falta faz à actividade política contemporânea.
Vivemos tempos de trincheira, de acantonamento ideológico, de posições extremadas, de um maniqueísmo que é (sempre foi) redutor, segundo o qual só existem os bons (nós) e os maus (todos os outros), os quais devem ser aniquilados a qualquer custo. Neste contexto, em que se tecem loas a quem mais alto berra e melhor ameaça esmagar os opositores, cultivar as virtudes da moderação em política aparenta ser absurdo e despropositado. Isto sucede por se confundir moderação com tibieza, cobardia, oportunismo, traição a princípios.
Não é, porém, destas características nefastas que se alimenta a moderação. Temperança, compromisso, legitimação do outro, capacidade de diálogo, harmonia, equilíbrio: ser moderado é "escolher a estrada do meio".
A reabilitação da moderação como alternativa política tem sido levada a cabo por vários autores, como Paul O. Carrese ("Democracy in Moderation"), David S. Brown ("Moderates") e Aurelian Craiutu ("A Virtue for Courageous Minds" e "Faces of Moderation").
Craiutu partiu de Aristóteles e passou por nomes tão relevantes e diversos como São Tomás de Aquino, Albert Camus, Alexis de Tocqueville, Raymond Aron, Montaigne, Montesquieu e Madison.
Os três princípios básicos da moderação, segundo Craiutu, são:
1. Fazer o trabalho de casa
Ouvir todos os lados, entender as questões, não trabalhar com factos alternativos, e manter uma linha aberta de diálogo, especialmente com quem tem opiniões contrárias;
2. Pensar de forma pragmática
Pensar ideologicamente é pensar pelo manual, é seguir determinadas regras em vez de considerar os factos cuidadosamente. Em vez disso, há que se erguer acima do tumulto e encontrar o que está para além dos interesses de facção;
3. Considerar o contexto
"Não se defende a moderação perante uma ditadura ou um caso de discriminação." O conceito de moderação não é andar cegamente pelo meio da estrada. "É como um equilibrista. Às vezes tens de te inclinar para a esquerda, às vezes para a direita".
Ou seja, a moderação é um complexo exercício de equilíbrio, que requer habilidade, treino, determinação, visão, coragem, intuição… Não se pode recuar nem parar, o único caminho é em frente, com atenção a cada passo, pois um cálculo mal feito pode ser fatal.
É assim, com pragmatismo, civilidade, contenção, bom-senso, diálogo e respeito pelas regras do jogo democrático, que se mantém uma alternativa credível e sustentável aos populismos e autoritarismos, extremismos e fundamentalismos.
Rejeitando as verdades absolutas e os salvadores da pátria iluminados e providenciais.
Respeitando e mantendo o diálogo com todos aqueles que estejam igualmente comprometidos em preservar e defender os valores fundamentais sobre os quais se construiu a democracia.
Eu, que moderado me confesso, vou voltar à política activa. Contem comigo!