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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

24/10/2023 08:00

Depois, veio a mortandade de 7 de Outubro em Israel, a terra prometida, parte das terras santas. Virei-me para os escritores, os artistas, para os pouquíssimos jornalistas em Gaza - e as dificuldades em receber informação fidedigna, por diferentes razões -, mas também para organizações de direitos humanos que tivessem uma perspectiva equilibrada, uma das primeiras vítimas, como a verdade, do conflito. Tenho acompanhado as publicações de Alexandra Lucas Coelho, a antiga correspondente do PÚBLICO em Jerusalém. Através desta cheguei à escritora palestiniana Adania Shabli, e ao seu livro Um Detalhe Menor, cuja acção decorre no Verão de 1949, pouco mais de um ano depois da independência de Israel, e que os palestinianos apelidam de Nakba, a catástrofe, que implicou a expulsão de centenas de milhares das suas terras. Um livro que viaja entre os ecos das atrocidades, e dos crimes não resolvidos, de ontem nos dias de hoje. A esta mesma escritora foi negada a cerimónia de entrega de um prémio literário durante a Feira do Livro de Frankfurt. A BBC informa também sobre vários israelitas árabes que foram detidos devido a publicações nas redes sociais relativamente à guerra em Gaza, incluindo a artista Dalal Abu Amneh.

Deparei-me com a intelectual americana Judith Butler que escreveu recentemente que é também uma judia que vive com um trauma transgeracional na sequência das atrocidades perpetradas contra pessoas como ela, mas que, acrescenta, também foram cometidas contra pessoas que não são como ela, concluindo que «eu não tenho de me identificar com este rosto ou aquele nome para poder nomear as atrocidades a que assisto; ou, pelo menos, esforço-me em não o fazer».

Nesta altura, em Estrasburgo, decorre o festival musical inter-religioso «Sacrées Journées» (Dias Sagrados). Dados os acontecimentos no Médio Oriente, não se pôde realizar este ano o concerto aberto a todos, que normalmente junta artistas judeus, muçulmanos e de outras religiões na mesquita. Todavia, em 19 de Outubro, setecentas crianças puderam presenciar, na Grande Mesquita de Estrasburgo, um concerto onde actuaram um cantor judeu, uma cantora cristã arménia e um grupo muçulmano. Espero que este ecumenismo, que também bebe do humanismo renano, possa imperar. Em França, isto é ainda mais importante quando em 13 de Outubro o professor Dominique Bernard - que se interpôs para evitar o pior - foi morto por um jovem radicalizado do Cáucaso, que havia publicado uma mensagem de reivindicação em nome do Estado Islâmico, diante de uma escola.

Há dias, soube que a palavra nesga provém do árabe nasj, tecido. Nesga pode ser um triângulo que termina uma costura para dar folga ao vestuário. Hoje de manhã, uma colega trouxe-me uns livros para aprender árabe de uma senhora tradutora que falecera. Abri-os e deparei-me com o seguinte «I have a house and thou […] hast a house» (Eu tenho uma casa e tu […] tens uma casa). Não será este o busílis da questão?

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