De um lado a capacidade de fazer acontecer, dinâmica, experiência empresarial, conhecimento dossiês da câmara e do governo. Do outro a capacidade de colocar embrulhos bonitos e vistosos nas medidas mais banais e corriqueiras. Qualquer das opções é legítima e, para quem decide, plenamente justificável. E por uma questão de honestidade intelectual quero já adiantar que não acredito que, a manter-se a atual solução que vigora na câmara, o Funchal se tornará num caos. Pelo menos, não um caos ao nível do que se tem vivido nos últimos meses com roturas de água e esgotos constantes e trânsito insuportável. Estou convencido que, de uma forma ou de outra, tudo isso se resolverá ou ficará mitigado o que, admitamos, ainda assim é poucochinho para uma cidade que já foi o modelo a nível nacional.
Há quem advogue que o perfil e carácter dos candidatos não deve ser discutido. Ora, esse é precisamente o elemento fundamental que preside à decisão da escolha.
Conhecendo o Pedro Calado há vários anos, tive maior contacto com ele aquando do processo de venda deste jornal. Ele representava o investidor privado e eu estava do lado do vendedor, o Governo. Já há distância suficiente para admitir o óbvio: a Região estava muito mais interessada em vender, por ser um compromisso eleitoral, por ser entendimento deste governo que o controle da comunicação social deste estar do lado privado, no respeito pela divisão dos poderes, e porque a manutenção deste projecto, que começava a ganhar nova e vibrante dinâmica podia ficar comprometido se não fosse devolvido à sociedade civil, do que propriamente havia entusiasmo do investidor na compra.
Mas tive do lado do Pedro toda a afabilidade, disponibilidade e compreensão. Até numa quinta ou sexta do rali, quando era urgente uma tramitação indispensável ao processo, o Pedro se disponibilizou a tirar alguns minutos daquele evento que ele tanto preza para resolvermos o assunto.
Manteve-se a mesma disponibilidade e afabilidade quando passou a ter "meio governo", como brincava o povo. Apesar da roda viva de compromissos e responsabilidades sempre teve a capacidade para dispensar alguns minutos a responder à uma chamada ou mensagem.
Tenho de confessar que, se a corrida eleitoral fosse um processo de recrutamento para um posto de trabalho, o Pedro seria excluído por excesso de qualificações. Uma ida para a Câmara, qualquer um admitirá, é um downgrade no seu percurso político. Mas o Pedro já habituou todos ao seu desapego.
Há coisas que não se costumam verbalizar no espaço público, preferindo muitos elucubrar teorias à boca pequena, mas que devem ser faladas claramente e sem tabus.
Quando vai para o Governo, não obstante as enormes responsabilidades que assumiu, o Pedro vem claramente auferir menos do que na sua actividade como gestor.
A sua vontade de voltar a contribuir para a causa pública sobrepôs-se ao legítimo conforto de gestor privado, com equivalente prestígio e remuneração.
Imediatamente que os percussores da campanha suja que o persegue, apressaram-se a acusa-lo de ter vindo para o Governo defender interesses obscuros.
Nada de estranho se passou entretanto, e os políticos da boca suja apenas podem usar a boataria e a suspeição, na falta de qualquer situação em concreto. Com a saída do Pedro do Governo, o que vão acusar? Afinal não estava no Governo por razões escusas?
Dizem que agora na Câmara é que está a dar para defender esses interesses. Bem, os promotores da campanha suja lá saberão o que tem sido hábito nos últimos anos da casa municipal!
O que me parece essencial é ressalvar o desprendimento do Pedro a cargos, lugares e afins. Se porventura o mundo enlouquecesse e o Pedro não ganhasse a eleição de 26 de Setembro, ele não se refugiaria em cargos de compensação, regressando tranquilamente à sua actividade privada de gestor. É sobre isto que os Funchalenses pesarão a sua escolha.