MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

14/10/2024 07:40

Madeira, a “pérola do Atlântico”. É um destino que encanta com suas paisagens deslumbrantes, clima ameno e a famosa poncha. Mas, como todo o bom paraíso, a beleza pode atrair turistas em demasia, transformando o que deveria ser um refúgio sereno numa maratona de selfies intermináveis. Como saber se estamos a sufocar sob o peso das malas de rodinhas e dos carros de aluguer?

Que se queixa o madeirense atualmente? À cabeça, a afluência desmedida de turistas aos mesmos locais de sempre, às mesmas horas, sem restrições ou qualquer tipo de coordenação. Em certos dias formam-se filas nos carreiros do Monte, no Pico do Areeiro, Mercado dos Lavradores, piscinas do Porto Moniz e congestionamentos nas levadas mais populares. Porque há mais gente, há mais trânsito na via rápida e sobrelotação de parques de estacionamento. Queixas pelo estacionamento desregrado e pelo desrespeito das mais básicas regras de segurança, ignorando sinalizações de perigo ou proibições, são recorrentes. Cada vez mais comuns são também as denúncias e críticas relacionadas com comportamentos extravagantes de turistas, como a realização de acampamentos em locais inapropriados e a circulação nas ruas em trajes menores. Por fim, e não de somenos, o preço das habitações, alimentos e serviços que tem subido drasticamente com o aumento da procura, é já uma questão política.

Mas impõe-se a pergunta: temos mesmo turistas a mais? Como se sabe?

A medição do excesso de turismo pode ser mais científica do que parece. Primeiro, temos a capacidade de carga, o que basicamente significa entender quantas pessoas um lugar pode suportar antes que comece a parecer uma lata de sardinhas. Essa análise envolve dados sobre a infraestrutura, serviços disponíveis e o impacto ambiental. Se soubermos quantos turistas cabem em segurança no miradouro do Cabo Girão e perceber que que esse número é diariamente ultrapassado, pode ser hora de agir.

Além disso, a taxa de ocupação é um indicador-chave. Se os hotéis e alojamentos estão tão cheios que começamos a ver turistas dormindo em todo o lado, pode ser um sinal de que a ilha está a abarrotar. E sem esquecer a satisfação do visitante, que pode ser medida por meio de pesquisas. Se os turistas estão reclamando mais do que tirando fotos, talvez seja hora de repensar a estratégia turística.

Pelo que importa saber. Temos estes números? Os estudos estão feitos? O impacto previsto? A capacidade de resposta preparada? Sem isto, estaremos apenas no campo do ‘achismo’, o que é péssimo, quer para o local, quer para quem governa.

Se identificar e medir o excesso de turismo é o primeiro passo, o segundo é saber como mitigar esse efeito. A primeira estratégia é a gestão da capacidade de carga. Reduzir o número de visitantes em locais sensíveis pode não ser popular, mas ninguém gosta de ficar preso em filas intermináveis. Se a fila para ver a vista é maior do que a própria vista, algo está errado.

Descentralizar o turismo é outra abordagem inteligente. Não tenhamos medo de promover outros locais e passeios que, embora menos conhecidos, são igualmente encantadores. Quem não gostaria de descobrir um cantinho escondido, onde o único ruído é o das ondas e o canto dos pássaros?

Além disso, promover o turismo sustentável é vital. Incentivar práticas que respeitem o meio ambiente e a cultura local não só preserva a beleza da Madeira, mas também cria uma experiência mais rica para os visitantes. Isso pode incluir tudo, desde ecoturismo até a promoção da gastronomia local. E criar regras. De acesso, de circulação, de limitação, tudo para promover um melhor acesso, melhor coordenação, e melhor desfrute do ponto turístico, harmonizando com a vida local.

Por último, a colaboração é a chave. Envolver a comunidade, empresas e órgãos governamentais na criação de um plano de gestão do turismo pode resultar em soluções inovadoras. Afinal, a Madeira é um tesouro que todos queremos proteger.

O turismo é uma fonte vital de receita para a Madeira, não esqueçamos isto. Muitas famílias dependem do turista. Mas é preciso encontrar um equilíbrio. Caso contrário, o que deveria ser um sonho tropical pode rapidamente se transformar num pesadelo de turistas. Portanto, é importante fazer da Madeira não apenas um destino de férias, mas também um exemplo de como o turismo pode ser gerido de forma inteligente e sustentável.

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