Após as eleições autárquicas, mais do que discutir os resultados, importa refletir sobre o que veio depois. O ambiente político tem-se tornado cada vez mais marcado por atitudes altivas e pela indiferença face aos problemas sociais. Em vez de se focarem na gestão e no planeamento, muitos representantes públicos optam por trocas de acusações e comentários vazios, contribuindo para uma degradação do debate político. Embora este comportamento seja esperado em certos contextos, inclusive autárquicos, não pode ser tolerado quando se trata de cargos de elevada responsabilidade institucional.
A crítica dirigida a uma vereadora recém-eleita, com base na sua profissão de assistente social, ultrapassa os limites do aceitável. Não se trata apenas de um ataque pessoal, mas de uma desvalorização de toda uma classe profissional. Ao ridicularizar o serviço social, perpetua-se uma visão limitada e preconceituosa, ignorando o papel essencial que estes profissionais desempenham na sociedade.
O serviço social tem uma história rica e significativa. Inicialmente ligado à Igreja Católica, numa lógica de caridade, evoluiu para uma prática técnica e profissionalizada, adaptando-se às transformações sociais e às necessidades emergentes. Os assistentes sociais são profissionais licenciados, formados para intervir com rigor e ética em contextos complexos, promovendo o bem-estar social e defendendo os direitos humanos.
A sua atuação vai muito além da assistência pontual. Envolve a análise das realidades sociais, a elaboração e execução de planos, programas e projetos, o encaminhamento de pessoas e a promoção de políticas públicas. São agentes de mudança, que fazem advocacia social, combatem desigualdades e lutam contra injustiças e discriminações. Estão presentes na defesa dos direitos individuais, familiares e coletivos, e trabalham para uma cidadania ativa e consciente.
É pena que o serviço social só seja “reconhecido”, quando são promovidas visitas a IPSS, entregas de cabazes, transporte de idosos ou no desenvolvimento de atividades comunitárias. Quando essas práticas são instrumentalizadas para fins políticos, contrariam claramente os princípios éticos e deontológicos da profissão. Pois o papel dos assistentes sociais não é garantir votos, mas sim proteger os mais vulneráveis e fomentar espaços de diálogo e pensamento crítico.
E há imensos profissionais em todos os setores que continuam a exercer com seriedade o seu trabalho, mesmo em contextos adversos. São eles e elas que estão no terreno, diariamente, a dar respostas às famílias, muitas vezes em situações de burnout, tentando assegurar habitação digna, alimentação adequada e acesso a cuidados de saúde.
Sou assistente social por convicção e paixão. Orgulho-me do compromisso que assumo todos os dias para o bem-estar comum, de ter estado em espaços de decisão, contribuído para a quebra de maiorias absolutas e por continuar no caminho da construção de políticas mais justas. É uma profissão que deve ser exercida com responsabilidade, ética e seriedade, tendo em conta o poder transformador que possui.
O serviço social deve servir as pessoas, não interesses. A verdadeira transformação começa quando profissionais éticos ocupam espaços de decisão, rompem ciclos de desigualdade e exigem que o poder público esteja à altura da sua responsabilidade.
É por isso, urgente que mais assistentes sociais, despedidos de preconceitos ideológicos, ocupem lugares estratégicos, onde se definem políticas e se planeia o futuro.