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Artigo de Opinião

10/06/2025 06:00

1 anos após o início da democracia e menos de um mês depois das últimas legislativas, estamos constantemente a ouvir um partido racista e xenófobo de extrema-direita a proclamar que “quem nos roubou durante 50 anos, tem de devolver tudo aquilo que nos tirou nas últimas décadas”.

Por coincidência, este meu texto sai a 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas. Decidi, pois, lembrar o que era Portugal há 50 anos, porque parece que há muita gente que se esqueceu de factos e prefere acreditar em balelas.

Vejamos:

1. Antes de 1974, 25,7% da população portuguesa era analfabeta. Nos censos de 1970, essa taxa era equivalente à de Itália nos anos 20. A maioria das crianças só frequentava o 1º ciclo. A educação não era uma prioridade, principalmente para as mulheres. Uma em cada 3 não sabia ler ou escrever. O ensino superior destinava-se a uma elite privilegiada. Não representava sequer 1% da população;

2. Em termos de habitação, só cerca de 47% das casas tinha acesso a água canalizada e um pouco mais tinha acesso à rede de esgotos. 30% da população vivia em condições de alojamento precárias, com 21.000 famílias em bairros de lata só no distrito de Lisboa;

3. A taxa de mortalidade infantil era de 37,9%. Não havia filas à porta dos hospitais, porque eles praticamente não existiam. A proteção na saúde era precária, quase inexistente e desigual;

4. Em termos de comunicações viárias, só existiam 66km de autoestradas em todo o país;

5. Não havia liberdade de expressão, de reunião ou associação. A polícia política perseguia, prendia e torturava quem pensava diferente ou era denunciado por vizinhos ou amigos por ser contra o regime.

50 anos depois:

1. Taxa de analfabetismo: 3,1%. 60% das pessoas diplomadas são mulheres. Em termos globais, 20% da população tem o ensino superior. Ainda é uma percentagem baixa quando comparada com o resto da UE, mas se nos reportarmos a 1974 a diferença é abismal;

2. O saneamento básico chega a 99,4% das habitações e a água canalizada a 99,35%. De acordo com o Censos 2021, em todo o Portugal existem 4.042 barracas;

3. A saúde passou a ser um dos direitos fundamentais da constituição. Com o SNS toda a população passou a ter acesso a cuidados de saúde, independentemente da sua condição social ou económica. Relativamente à taxa de mortalidade infantil, Portugal passou integrar o grupo dos 10 países da UE com menor taxa de mortalidade infantil;

4. Portugal possui a 4ª maior rede de autoestradas da Europa, num total de cerca de 3065km de extensão;

5. Há liberdade de expressão, até para quem escolhe zurrar no parlamento para ofender deputadas de outros partidos ou mentir para ter mais votos.

Ou seja, quando o líder do partido de extrema-direita afirma que terá de ser devolvido o que foi tirado ao longo de 50 anos, pretende que voltemos ao que éramos antes de 1974: pobres, ignorantes, isolados, perseguidos, subservientes e governados por elites que desprezavam o povo analfabeto.

50 anos depois, falta-nos o investimento na cultura que nos permitiria pensar a realidade critica e empaticamente, sem engolir as boçalidades que alguns vomitam com o intuito de governar e dividir pelo ódio, pelo racismo, pela desumanização, pela mentira.

A manutenção da democracia depende da luta e do envolvimento pessoal. Isso traz trabalho e incómodo pessoal. O silêncio, a ignorância e o medo podem transformar os regimes. Cabe a cada uma ou um de nós denunciar e lutar contra esta avalanche que pretende acabar com o regime democrático. Que Portugal queremos? A escolha é nossa.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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