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Artigo de Opinião

Consultor

28/08/2024 08:00

Imersos num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os empregadores lutam ferozmente para atrair e reter o melhor talento. Uma fórmula amplamente utilizada passa por oferecer um pacote diferenciado de regalias aos colaboradores. Porque não uma inscrição patrocinada no ginásio, uma oferta formativa aliciante ou uma happy hour para manter a equipa motivada? Embora esta linha de raciocínio pareça sensata, uma discussão na rede social X (antigo Twitter), que teve início com uma pergunta dirigida a programadores do setor tecnológico, levou muitos empresários a pensarem duas vezes no assunto, conduzindo à popularização da expressão Anti-Perks (Anti-Regalias numa tradução livre).

As Anti-Perks representam uma categoria única de benefícios no local de trabalho que os colaboradores consideram potencialmente prejudiciais para a sua produtividade e bem-estar. Estas regalias não convencionais podem ser bem-intencionadas, mas alguns colaboradores consideram-nas prejudiciais para o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O conceito alerta para a importância de adaptar as regalias no local de trabalho de forma a satisfazer as diversas preferências dos colaboradores e reconhecer que aquilo que pode ser considerado como uma regalia por uma pessoa pode ser entendido de forma substancialmente diferente por outra.

Voltando à apaixonada discussão na rede social X, existe um conjunto de supostas regalias por aí que acabam por funcionar como um enorme desincentivo para muita gente, nomeadamente:

1) Políticas de férias ilimitadas – muitos colaboradores estão conscientes de que “tira as férias que quiseres!” traduz-se frequentemente por “sente-te culpado por tirares férias!”;

2) Escritórios open space – mesmo que sejam bonitos e aparentemente divertidos, as queixas sobre distrações nestes espaços são intermináveis, além da investigação que sugere como são terríveis para a colaboração e para a inovação;

3) Álcool no escritório – beber uma cerveja com os colegas de vez em quando pode ser uma boa forma de criar laços, mas são incontáveis os relatos de más experiências relacionadas com o álcool no local de trabalho;

4) Atividades de team-building radicais – os colaboradores queixam-se, frequentemente, destas atividades recreativas, que vão desde o esqui ao paintball e desconfiam de qualquer tipo de diversão forçada com os colegas de trabalho. Citando um internauta: “Não quero ir para as Bahamas com o Dennis da contabilidade”;

5) Salas de sesta e ginásios no local – à primeira vista, estas infraestruturas são um sinal de preocupação com a saúde e bem-estar dos colaboradores, mas a maioria das pessoas interpreta estas medidas como um sinal de que o empregador espera que nunca saiam do escritório.

Em suma, o conceito de Anti-Perks e toda a discussão gerada em torno dele, constitui um alerta para que as organizações pensem cuidadosamente nas regalias que oferecem ao seu talento. Investigação recente sugere que os colaboradores estão bem mais interessados em regalias que se alinham com os seus valores e que ofereçam a possibilidade de trabalharem da forma que lhes permita realizar o seu melhor trabalho a longo prazo. À primeira vista, as Anti-Perks podem parecer uma nobre iniciativa das organizações para apoiar os seus colaboradores, mas frequentemente, trata-se de forçá-los a trabalharem mais tempo e mais arduamente do que aquilo que seria justo e sustentável.

Parafraseando Edwar Counsel: “Há frequentemente um veneno nos presentes da fortuna.”

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