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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

26/04/2021 08:00

Falar de património é algo de uma abrangência de envergadura. Na terminologia da UNESCO E ICOMOS, por exemplo, existem 4 grandes referências: Monumentos, lugares, grupos de edifícios e património intangível. Também existe o património natural, o misto, o de acção humana e ainda outros que não me ocupo aqui de referir. É um debate que tem dias infindáveis nos corredores académicos e das intelectualidades.

O documento para a autenticidade (https://www.icomos.org/charters/nara-e.pdf) é um historial de modificação e debate, muito por culpa de ter de haver a consciência de que o património não é algo estático e necessita de estratégia, visão, adaptação e cuidado.

Na Madeira existe o que considero ser o Património das Elites e o Património dos mais vulneráveis. Se falarmos da Sé Catedral, Igrejas, museus, quintas, solares e por aí adiante, estamos a falar de património das Elites, património relativo a supremacias de vária ordem ao longo do tempo. Se falarmos de paredes de pedra, caminhos antigos, palheiros, terrenos agrícolas, barcos de pesca, entre outras realidades, considero estarmos a falar de património dos mais vulneráveis, do povo ou como quiserem apelidar.

Sem querer entrar em política ou esterilidades, a realidade é que nas últimas décadas, a elevada modernização da Madeira suprimiu este lado da nossa história, do nosso património. É inegável a necessidade de que padecia a Madeira de se modernizar, mas parece-me que, passadas cerca de 4 décadas, a Madeira pode mudar a estratégia e ao invés da cultura do construir tudo de raiz, talvez seja tempo de uma estratégia mais concertada de sinalização, recuperação e valorização do património regional, em especial o relacionado com a labuta e sacrifício dos mais vulneráveis, uma vez que o das Elites tende a ser mais visível e cuidado. Talvez não necessitemos de esperar pela UNESCO, talvez uma "MADESCO" careça de nascer. Paredes de pedra, trilhos, casas antigas, micro-localidades e suas dinâmicas, caminhos, etc, e muito tal, mereceriam, como tenho constatado, uma maior atenção.

Recentemente acompanhei uma senhora Italiana, que se encontra responsável pelo restauro e conservação do convento de Santa Clara, ao Porto do Pesqueiro, antigo porto e caminho que jaz abandonado em terras de Ponta do Pargo. Questionou-me, a senhora de terras à beira Adriático, se ninguém queria saber de um património assim, regalada com a força e bravura dos atlantes antepassados. Embora seja algo que me preocupe muito e encontre em muitas das minhas incursões aos nossos recantos da história dos mais vulneráveis, respondi à veneziana "expert" e formada em conservação e restauro: "Não me parece!"

Por fim, há também um conceito mais aterrador, mas que também é relacionado com o que aqui reflicto. O património ausente. O Farol de Alexandria, por exemplo, é falado, é conhecido, mas não existe. É um património ausente. Antes que muito do nosso património que refiro anteriormente se transforme em património ausente, talvez seja tempo de arregaçar as mangas e ter talvez um quinto da bravura dos nossos antepassados. Esta visão, que aqui defendo em poucas linhas, não exclui o sector da construção, marcadamente importante e fundamental na região, antes é um chamamento à sua reinvenção para que participe e auxilie nesta nova Madeira que se quer mais virada para a natureza, eficiência, ruralidade, história, diferenciação. Ainda que tal, folgo em vislumbrar os esforços que já vão sendo realizados pelas autoridades regionais e locais no sentido de não deixar perder o que temos de distinto. Ao invés de enveredar pela polémica relativa à promoção da Madeira, alerto para a necessidade de, sim, promover a Madeira, mas também e de caracter importantíssimo: Cuidar da Madeira.

Até…

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