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Artigo de Opinião

29/04/2023 08:00

A qualidade de vida melhorou substancialmente, mas a pureza dos princípios, e a excelência dos textos normativos, tem andado ausente de uma concretização séria e consistente. O expectável desenvolvimento humano parece gorado e o país de Abril adiado, imbricado num reformismo ziguezagueante e inconsequente. Retorna o medo e a incerteza, o espectro da fome e da pobreza, a inacessibilidade à habitação condigna, aos cuidados de saúde, à justiça pronta. A educação parece gerar tão só uma iliteracia licenciada divorciada do mercado de trabalho, à mercê do ordenado mínimo. Acentua-se o empobrecimento da classe média e cresce o fosso e a desconfiança entre os cidadãos e os seus representantes. O 25 de Abril tende a transformar-se numa data histórica insípida cujo significado e valor se resume ao sabor de um dia feriado. Os hemiciclos engalanam-se com cravos, nas encenações obrigatórias da nomenclatura representativa, debitam-se discursos de circunstância politicamente correctos e uns tipos voluntariosos erguem bandeiras e bradam os slogans da praxe, em manifestações estafadas que não empolgam a indiferença geral. Para a maioria da população castrada por um dia a dia difícil é preferível gozar a folga no campo ou na praia, borrifando-se para o evento e os seus figurantes. Há uma apatia generalizada da população sobre o fenómeno político. As inconsequências, as malfeitorias, os enriquecimentos descarados e outras aleivosias de uma certa classe política, envenenaram decisivamente a ligação entre eleitores e eleitos, em lugar de criar uma relação de confiança e interacção. Afora as convulsões para a defesa de interesses corporativos, o país segue desencantado e alheado. Que o diga a abstenção. Falta seriedade, credibilidade, liderança livre e convicta para galvanizar a população para a realização do sonho colectivo que Abril descortinou. Cavalgando o descontentamento, germinam saudosismos, discursos de ódio e intolerância, populismos sem soluções e com agendas autocráticas que minam os conceitos de democracia e de estado social. Acresce, na partidocracia tradicional, uma horda de equivocados que ainda não assimilou as noções de pluralismo e de liberdade e que extravasa o insulto e a agressão, fomentando um ânimo de ódio aos inimigos, aqueles que não partilham das mesmas ideias ou chavões, num básico se não és por mim és contra mim. É imperioso restaurar o argumento, em detrimento da trapaça, do achincalhamento, do engodo e da propaganda. É imperioso restaurar a ideologia, a consciência social, a visão de futuro colectivo, num tempo em que a política se converte num mero arranjo umbilical de poder a conquistar em universos de quatro anos. A História demonstra que só as sociais democracias são capazes de um compromisso equilibrado, justo e duradouro da vida em comum, desde que se libertem dos escolhos que as entorpecem e ludibriam. E é preciso mobilizar os jovens. Afora os que, em detrimento do mercado de trabalho e a profissionalização, se lançam na via fácil do carreirismo político como elevador social, numa ambição sem ideal colectivo, a generalidade dos jovens de hoje parece não ter qualquer propensão ou espaço para o fenómeno político, ignorando assustadoramente as configurações do sistema e a importância que tudo isso tem na sua vida.

A democracia não é um valor conquistado, é uma luta constante pela afirmação da liberdade, do respeito pela pluralidade e da justa redistribuição da riqueza para a criação de um estado de bem-estar social.

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