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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

10/10/2025 08:00

Está a chegar a época do marmelo. Sim, já estou a imaginar algum dos meus leitores a segredar para os seus botões: “o que não faltam por aí são marmelos, marmanjos e marmanjolas durante todo o ano”. Outros, mais malandrecos, lembrar-se-ão porventura de outros marmelinhos, ou seja, da parte da anatomia feminina muitas vezes assim apodada. Tão rica e engraçada a nossa língua! Não é?

Vou, pois, falar de marmelos, uma ideia que já se me vinha impondo desde que terminei a crónica sobre o antigo recurso ao vime da Camacha como possível ameaça, ou mesmo punição, para um mau comportamento. Isto porque então me ocorreu outra expressão congénere comum na nossa tradição oral: “levas uma malha — ou um malhão — de pau de marmeleiro”. Enquanto o vime da Camacha me era familiar, acho que nunca vi um pau de marmeleiro e como tal, não consigo imaginar a quão penoso seria ser vergastado com ele. Lembrar a expressão, contudo, divertiu-me e lá me perdi nos arredores do marmeleiro.

A designação do fruto do marmeleiro, o marmelo, segundo a “wikipedia”, recebe a sua origem do latim “melimelum”, que por sua vez deriva do grego e quer dizer “maçã de mel”. E, antes da existência do açúcar, era, efetivamente, em mel que se cozia os marmelos, o que prova ser este fruto duro e amargo aproveitado pela humanidade desde longa data.

Também descobri que o marmelo tem uma parente, a gamboa que é menos amarga e menos dura, pelo que coze mais rápido do que o seu primo marmelo que, contudo, tem sobre ela a vantagem de apresentar uma pele mais lisa e ser aromático, enquanto ela é engelhada e inodora.

Consta que os portugueses foram grandes entusiastas da arte de fazer marmelada – a compota, claro! Por poder ser conservada em condições comestíveis por um longo período, era usual integrá-la na lista dos mantimentos levados nas caravelas e o termo espalhou-se por outras paragens. Diz-se, e o meu velho dicionário confirma-o, que o termo “marmelade”, usado pelos ingleses para designar a sua compota de citrinos, deriva da nossa palavra marmelada.

Do marmelo quase não sobra desperdício porque, para além da compota feita com a polpa, também se pode fazer a marmelada de caroço, uma geleia espessa e brilhante feita com o líquido resultante da cozedura das cascas e sementes do fruto.

Quando é que a marmelada começou a ter segundos sentidos, não sei. Ouvi ou li, mas não tenho confirmação, que, em tempos idos, era comum as pessoas de uma localidade se reunirem, por vezes até nos conventos, para ajudar na confeção da marmelada. Seria um momento de encontro e convívio social que propiciaria algumas aproximações e, por vezes, enamoramentos entre os elementos do grupo que levariam a trocas de contactos mais íntimos. Jocosamente, outros diriam que estavam a fazer marmelada ou que estavam no marmelanço. Para mim, até faz sentido. Porém, não sei se esta justificação é correta e já se sabe que qualquer marmelo pode inventar uma história de acordo com a sua lógica.

Assim, com um sorriso, termino esta divagação de associações doces para contrariar a agrura das incertezas deste nosso mundo.

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