“Mais vale um cão vivo do que um leão morto” - Eclesiastes 9:1-12.
Salomão com esta frase bíblica, escreve sobre o destino comum a todas as pessoas, ou seja, a morte.
Todos vamos morrer, independente de quem sejamos, de qual foi a nossa importância ou influência, e de quais tenham sido as nossas obras.
O Leão símbolo de grandeza, força e poder, depois de morto não pode realizar mais nada na Terra.
Por isso, temos de aproveitar e disfrutar da vida, esse é o nosso maior tesouro.
No entanto, existem Leões que depois de mortos continuam a realizar coisas, isto porque, com a sua vida influenciaram e inspiraram os outros, que continuarão o seu legado.
Será certamente o caso de Francisco Pinto Balsemão.
A sua morte trouxe ao de cima o seu trajeto de vida e os valores que sempre nortearam a sua conduta.
Foi um político interessado por construir um Portugal livre, moderno e democrático, mas desinteressado em se eternizar e viver dos egos que a política traz.
Foi um dos fundadores do Partido Social Democrata, que a par do Partido Socialista tornou-se num dos mais determinantes partidos políticos da nossa democracia.
Era Primeiro-Ministro quando se fez a revisão Constitucional de 1982, a qual foi a “primeira” verdadeira Constituição do Portugal livre, porque tornou-a mais liberta do cocktail ideológico do 25 de Abril, flexibilizou o sistema económico, extinguiu o Conselho da Revolução e criou o Tribunal Constitucional.
Fundou o semanário “Expresso” em 1973, inspirado nos jornais ingleses de domingo de qualidade, tornando-se numa referência jornalística até aos dias de hoje.
O slogan do Expresso era “Liberdade Para Pensar”, característica intrínseca do seu fundador e que transmitia aos jornalistas que contratava.
Em 1987 o Expresso cria o “Prémio Pessoa”, para premiar todos os anos um Português que se tenha distinguido na vida cientifica, artística ou literária.
Para além do diploma o distinguido recebe cerca de 70.000,00€ e é uma das distinções mais prestigiadas do género em Portugal.
Criou em Outubro de 1992 a SIC, que foi o primeiro canal de televisão privado, independente e comercial de Portugal, após 35 anos de monopólio do Estado no mercado televisivo.
Aquando da sua primeira emissão, eu tinha acabado de ingressar na Universidade de Coimbra e estava a viver inicialmente no Porto, e o País literalmente parou com a primeira emissão da SIC.
Desde as cores à música do genérico, respirava-se uma nova era, mais leve, mais livre e menos cinzenta.
Balsemão, ganhou o respeito e em alguns casos amizade de uma vida, mesmo de quem pensava diferente, exemplo disso foi Mário Soares.
Nunca usou o insulto, a agressividade ou o ódio para dizer o que pensava, e isso contrasta com os dias de hoje.
A morte de Pinto Balsemão, também trouxe ao de cima uma característica muito portuguesa. Que é a valorização da pessoa após a morte.
Até há cerca de 3 dias atrás, tínhamos entre nós este Português que tantos exemplos de cidadania ativa deu e será que o aproveitamos para nos educarmos e educarmos os nossos jovens?
Julgo que devemos olhar e nos inspirarmos mais, nos grandes Portugueses que ainda estão entre nós para, em conjunto beber da sua personalidade e sabedoria, com vista a deixarmos um País e uma sociedade melhor daquela a que encontrámos, como desejava Balsemão.
De repente, lembro-me de ter assistido há cerca de 6 anos atrás, num congresso da Ordem dos Advogados, a uma intervenção do Presidente da República Ramalho Eanes e fiquei siderado com a honestidade intelectual, com a inteligência e sentido de Nação (diferente do sentido de Estado) daquele homem.
Estamos um pouco distraídos com a espuma dos dias e insistimos em revisitar lugares comuns, em vez de valorizar em vida o que de melhor temos.
Partiu um Leão, mas a sua grandeza continua.