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Artigo de Opinião

Ex-Presidente da Direcção da Académica da Madeira

11/02/2021 08:08

Na minha declaração prévia de interesses devo dizer que, além de licenciado em Engenharia Informática, sou um orgulhoso leitor de livros impressos em papel, por prazer, e que lidero uma estrutura detentora de duas editoras. Sou, portanto, completamente parcial na defesa da leitura, dos livros e dos benefícios que estes trazem no combate à ignorância e na edificação de uma sociedade mais plural e humana.

Nos últimos anos, o mercado do livro em Portugal estava a crescer. Segundo os dados da GfK Portugal, o valor global do negócio livreiro rondou os 150 milhões de euros em 2019, atingindo quase os 12 milhões de unidades vendidas, dados que excluem os manuais escolares. Enquanto a nossa média, se aplicada de forma bruta, situaria-nos na venda de um livro por cada português, países como o Reino Unido, com 191 milhões de unidades vendidas em 2018, têm quase quatro vezes mais vendas por habitante, de acordo com dados da BBC.

A Federação Europeia de Editores indicava que, em 2017, o mercado livreiro valia 22,2 mil milhões de euros no Velho Continente. Em 2016, estimou-se que foram lançados 16,5 mil títulos em Portugal, mas com poucos a chegarem, a pelo menos, a mil pontos de venda nacionais, sendo que a maioria desses locais são supermercados. As pequenas livrarias e alfarrabistas estão a encolher, num movimento de contração acentuado pela crise que vivemos.

Vendemos poucos livros, cada vez menos em livrarias, que são os locais por excelência para esse comércio. A Rede de Livrarias Independentes, criada em Abril de 2020, pretendeu reduzir os efeitos da crise no mercado livreiro através da criação de uma plataforma de livrarias de todo o território sem ligação a redes dos grandes grupos editoriais e livreiros. A tendência nacional de polarização de vendas através de grandes escritores é o que também vemos em outros países.

Chegamos a 2021 com números alarmantes da pandemia, liderando os piores indicadores mundiais. Nesse contexto delicado, vivemos um Estado de Emergência, decretado como única alternativa para mitigação da crise de saúde. A discussão é fértil, e ainda bem, e envolve a defesa da venda dos livros nas grandes superfícies e ao postigo nas livrarias. O ministério que deveria tutelar a cultura remete para a pasta da economia a explicação para exclusão dos livros enquanto bens essenciais que deveriam ser vendidos nos espaços comerciais que continuam abertos, numa posição defendida pela Associação que representa o sector em Portugal, a APEL. No final de Janeiro, na saída de um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, dois parlamentares indicaram que o Presidente estaria interessado em ver o fim da disposição que interditava a abertura das livrarias e mesmo a venda de obras nos locais onde está, neste momento, proibida em hipermercados ou postos de correio.

A cultura, nas suas variadas vertentes, não tem sido poupada, como tantos outros setores, da crise. Sabemos que, quando se iniciar a desejada recuperação nacional, ela representará uma área cuja normalização será ainda mais lenta. Perdemos todos com isso. Em 2018, a Deloitte revelou que mais de metade dos portugueses tinham os livros como a prenda mais provável do seu Natal. Em 2021, no Natal, no Verão, nos aniversários e demais datas especiais, espero que o livro seja uma das prendas eleitas por vós. Acima de tudo, que possamos visitar as livrarias, partilhar as leituras e as vivências sociais desse hábito. Mais do que celebrar os livros, temos que salvá-los a bem do nosso futuro.

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