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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

5/11/2022 08:00

Tratam-se de cerca de 1300km de extensão desde a capital Paquistanesa, Islamabad, até a China. À primeira leitura de uma descrição desta estrada o fascínio pode subir à mente. Inclusive, esta arrebatadora via, é considerada uma das candidatas a oitava maravilha do Mundo Moderno. Diz-se, pelos altos e remotas vilas do Norte do Paquistão, que por cada quilómetro desta estrada um ser humano pereceu. Foi uma obra hercúlea que ceifou imensas vidas, levando décadas a ser dada como concluída.

No findo Outubro, num pequeno autocarro, fiz esta estrada quase na sua totalidade, (em trabalho, antes que me chamem de vadio do cão) desde Islamabad até a fronteira com a China. O que se vê, o que se sente, o que se passa, o que se desespera pode dar um Romance, filme ou documentário. Esta estrada situa-se numa das maiores cordilheiras do mundo, circundada por montanhas que ascendem a altitudes perto dos 8000m. Curvas, contracurvas, derrocadas, pedras, milhões e milhões de pedras, gente, rebanhos de vacas, ovelhas e cabritos são alguns "condimentos". Muitas vezes existem paragens de horas para que uma derrocada seja limpa e para que o trânsito possa voltar a seguir, já para não falar da possibilidade de levar com uma derrocada em cima. Vilas que outrora viviam num isolamento irreal aos olhos de um Ocidental vão se desdobrando, o rio Indu é companhia frequente, os camiões psicadélicos desdobram-se. É um filme autêntico. Por sinal, muitas partes da estrada estão danificadas, com tremendos buracos no seu trajecto. Tudo isto somado torna a viagem verdadeiramente avassaladora e quase eterna. Compensa o facto de quanto mais a norte se chega, as vistas serem cada vez mais indizíveis com as altas montanhas pintadas de neve a fazerem a sua impetuosa aparição.

Para além de tudo isto ainda existem as repetitivas escoltas militares, sobretudo na província de Khyber Pakhtunkhwa. É em nome da segurança, mesmo que se saiba que na realidade é mais uma paranoia que ainda ecoa desde os tempos do 11 de Setembro. Incontáveis paragens para mostrar o passaporte e o visto sucedem-se ante um guarda sorridente que fica feliz de ver forasteiros. Tudo isto somado, de Islamabad ao vale de Hunza no norte do país, são 2 dias no melhor dos cenários.

Acontece que toda esta jornada acontece com muitas peripécias pelo meio. Existe sempre uma vila ou pequena localidade com um rudimentar quiosque de madeira para venda de alguma comida. Sabem os locais que muita gente passa por ali dia e noite e há que ser empreendedor. As constantes paragens para a limpeza de derrocadas originam o contacto entre os viajantes que esperam. Existem conversas, jogos de atirar pedras ao rio e ao invés do drama e do stress muito em voga nas sociedades Ocidentais, ali não há remédio senão tentar transformar algo desagradável em uma oportunidade de olhar algo desagradável com outros olhos. Acabam por surgir brincadeiras, sorrisos, contacto com a cordial e simpática gente do Paquistão e uma lição ocorre para quem tiver sensibilidade para tal. Quando não há mais nada, há que viver com o que há, quando há tudo e mais alguma coisa e damos tudo por garantido, fica muito espaço para o drama e para a ficção. Um dia de chuva, uma fila no trânsito, em alguns lugares que eu cá sei é um stress do caraças, noutros lugares do mundo dois dias para chegar a um destino é o que há.

A Karakoram Highway é dura de roer, mas não deixa de ser uma tremenda viagem para aqueles que estimem abraçar a viagem como ela é e não como gostariam que ela fosse. A vida não é como nos filmes, mas a vida pode ser um enredo para um tremendo filme.

Até…

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