MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

25/08/2024 08:00

Os povos da antiga Mesopotâmia tinham a ideia que os deuses tinham criado o mar e sobre as nuvens um grande lago com água para que a chuva caísse em gotas sobre a terra.

A Madeira, ao longo dos séculos, escavou a rocha dura do norte da ilha para irrigar as terras do sul, criando as famosas “levadas”, para irrigar o sul da ilha.

Segundo um historiador italiano, nos inícios da descoberta a Madeira estava coberta de um grane arvoredo, que foi provocado um incêndio que durou sete anos, certamente que não teria atingido a floresta da Laurissilva. Água e fogo são conhecidos em toda a nossa história, embora não tivéssemos fogo ativo como no início. São Francisco no seu cântico Lodato Si mio Signore, chama à água e ao fogo, irmãos, de facto, não podemos viver sem eles. Inocentes ou culpados, a natureza não é respeitada, discute-se muito por causa das ovelhas na serra, de facto elas não comem árvores, mas comem ervas e arbustos que impedem a propagação do fogo. Conheci alguns pastores, meus vizinhos, que tinham ovelhas nas serras de Santo António e nunca pensaram que o seu gado prejudicasse a natureza. Além disso, conheci muito bem o Padre Manuel Nóbrega natural do Curral das Freiras que conhecia as serras, os musgos, as florestas, os rochedos, e que, perante mim seu bispo, me falou com palavras duras e até insultuosas do erro crasso de retirar as ovelhas das serras e das vinganças que pastores e outros homens exerceriam com incêndios, para vingar a violência que tinham exercido contra eles.

Sou de opinião que, alguns incêndios, para além dos pirómanos, são fogo posto, para vingar casos particulares e talvez mesmo políticos.

Quanto à água potável, é hoje em dia um dos maiores problemas da humanidade. A água salgada é quase constituída 98 por cento por mares e oceanos, e somente 0,025 por cento de água potável, facilmente acessível, segundo a Organização Meteorológica Mundial.

Recentemente os grandes rios Níger, Volta, Nilo, têm um volume Inferior ao normal, devido aos efeitos das mudanças climáticas.

Tudo isto, é uma ameaça ao direito humano à água potável e aos serviços higiénicos-sanitários de todo o mundo.

As inundações, a seca, os incêndios, tornam cada vez mais dura e aflitiva a sociedade humana, principalmente os mais pobres, para uma estabilidade económica, social e política. Na realidade, a água e os incêndios preocupam a humanidade, no último século o consumo de água aumentou em todo o mundo. O desenvolvimento económico e modelos de desenvolvimento, principalmente nas regiões áridas.

A falta de acesso à água é um sinal de pobreza e encontra-se em todos os continentes. Sob este aspeto os nossos antepassados merecem um prémio internacional. A sua distribuição não apenas nas grandes levadas, onde hoje passeiam os turistas, mas também a distribuição nas pequenas levadas que levam o precioso líquido nas grandes quintas e pequenas casas da cidade. As Nações Unidas declararam o direito humano à água em 2010 e proíbe o uso da água como arma de guerra.

A primeira guerra por casa da água teve lugar há cerca de 4500 anos entre as antigas cidades de Umma e Lagash na Mesopotâmia, por causa do acesso à água de irrigação do rio Tigre. A água deve ser um fator de cooperação e de paz e não de guerra.

O Papa São João Paulo II, que visitou a Madeira, foi o grande renovador da doutrina social da Igreja, ele enfrentou os diversos problemas da água e o seu “destino universal” deste precioso dom de Deus, sem discriminação.

O Papa Francisco tem erguido a voz no mesmo sentido. Disse que em cada 80 segundos morre uma criança vítima de água inquinada.

Recordo com saudade a visita às Carmelitas do Carmelo na Terra Santa, levado por um judeu vindo dos Estados Unidos, amigo destas pobres Carmelitas, que receberam os Bispos portugueses, se alegraram com a visita e, por fim, num dia muito quente nos ofereceram um copo de água fresca.

São Mateus e São Marcos (Mt.10,42 e Mc.9, 41) citam a frase de Jesus: “Quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em ver vos digo que não perderá a sua recompensa”.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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