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Artigo de Opinião

18/03/2024 07:30

Todas as decisões que tomamos seguem uma expetativa de que determinados eventos ocorram em determinados contextos e em determinadas alturas. Mas quando o assunto é a política, estamos a lidar com um contexto, muitas vezes, imprevisível e desafiador.

O ‘terramoto’ de 24 de janeiro causou um rasto de destruição que ainda hoje se sente. A Madeira tinha acabado de sair de eleições e entrava para 2024 com esperanças renovadas de que este seria mais um ano de grande crescimento e de continuidade das políticas que haviam permitido ultrapassar a crise da saúde pública e a crise económica que lastrava. De repente, o Governo Regional passava a demissionário, a Coligação entrava em processo de liquidação, e os dois partidos em processos de renovação interna. Tudo com os avais palacianos de São Lourenço e Belém.

No CDS-Madeira, Rui Barreto anunciou que estava de saída. Surpresa para muitos, mas não para quem o acompanha. O Rui, ao assumir a liderança do CDS, propôs-se a levar o partido ao Governo. Estava na sua moção aprovada em congresso em 2018. Em 2019 cumpriu-se este objetivo. E pela primeira vez existiu na Madeira um governo para além do PSD. O CDS foi o primeiro a fazê-lo e esse marco na história da Madeira ninguém tira.

Foram praticamente 4 anos e meio onde a presença do CDS se fez sentir no seio da gestão pública, particularmente nos setores tutelados pelo Rui Barreto e pelo Teófilo Cunha. Foi preciso partir muita pedra, ultrapassar as desconfianças e as dificuldades impostas por várias décadas de governação única, mas os resultados foram aparecendo. Foi a recuperação de uma empresa pública falida; foi a dignificação e marca de respeitabilidade de uma Autoridade com grave importância na Região; foi a negociação e pacificação nos HF; foi o desbloqueio para a renovação das frotas pesqueiras; foi a negociação coletiva concretizada que afeta diretamente mais de 80 mil trabalhadores na Região; foi o lançamento de linhas de apoio diretas às empresas que permitiu a sobrevivência na pandemia e a manutenção de milhares de postos de trabalho; são os resultados económicos, com a economia regional a crescer há 33 meses consecutivos, mesmo com a crise económica, a inflação, os juros bancários e os preços em alta; e muito mais há para mostrar. E há que ter orgulho neste trabalho feito pelos correligionários do CDS.

Mas o Rui sempre disse que sairia quando este projeto terminasse. Disse-o também de forma a preparar outros quadros para assumir o desafio de liderar o Partido. O que ninguém esperava é que o presente mandato fosse encurtado tão abruptamente. E este é, para mim, o principal problema.

Não nego que foram muitos os incentivos e pedidos para que concorresse à liderança do Partido. De dentro e de fora. Porém, e esta é a minha visão, a possibilidade de eleições num prazo tão curto impõe a necessidade de decisões rápidas, eficazes e ajustadas aos condicionalismos do momento.

A preparação de um novo projeto político e a reunião do partido à sua volta não se coaduna com a ora urgência da participação em eleições num cenário completamente novo. É essencial reconhecer que este processo não pode ser realizado de forma precipitada, sob o risco de comprometer a integridade e coesão do partido no futuro. Este cenário inesperado exige uma abordagem cuidadosa e eficiente e o desafio reside em encontrar um equilíbrio entre a urgência da situação e a necessidade de um planeamento sólido.

E esta é a razão que entendo que uma solução de transição, nesta fase, responde ao presente contexto político, muito incerto e muito complexo. Neste curto espaço de tempo pede-se ao partido que, tendo em vista as próximas eleições regionais, procure reunir não só aqueles que demonstraram vitalidade e competência no quadro da coligação, mas igualmente aqueles que passaram mais despercebidos ou por esta ou aquela razão não contribuíram. É fundamental capitalizar na experiência governativa que o partido adquiriu nos últimos anos e aproveitar as lições aprendidas e os sucessos alcançados, que pode ser uma vantagem competitiva crucial no cenário político atual.

Por fim entendo que essa liderança deverá ser confiada a uma figura do partido reconhecida na sociedade madeirense, com vasta experiência político-partidária e capaz de reunir, nesta fase, as várias fações que compõem o CDS. Esta escolha poderá proporcionar estabilidade e continuidade num momento de incerteza, enquanto abre espaço para a renovação interna que se pede a seguir a cada ciclo.

O CDS-Madeira enfrenta desafios significativos, mas não insuperáveis. Uma transição suave agora pode garantir uma posição forte nas próximas eleições e nos combates que se seguem. Ao capitalizar na experiência passada e defender as suas causas de forma responsável, o CDS afirmar-se-á, mais uma vez, como uma força política relevante e influente na região.

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