MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Investigadora

17/03/2024 07:30

Todos os dias vou fazer festinhas ao Matateu e ele derrete-se todo. É manso e baboso e ninguém resiste ao jerico. Por falar em coisas que amansam o coração, há dias, num convívio entre novos e mais velhos, uma senhora, do alto dos seus oitenta anos, perplexa por ver tanta moça sem marido, dizia:

- Olha lá, fulano tal é muito bom partido. Tem uma casa de alto e baixo!

Evitando a gargalhada para não ofender a matriarca, pensei cá com os meus botões que me bastaria uma casa da lancha, pequenina e bem em cima da praia. Obviamente sem dono e muito menos com pretensões a marido. É que, como diz o meu afilhado Estevão: Ooooh madrinha, não vai haver marido para ti!!! Vergo-me por tanta sabedoria, aos cinco anos de idade.

E por falar em amansar o coração, ando com o meu bambo, bambo por causa do novo livro do Valter Hugo Mãe, uma verdadeira elegia à Madeira e aos ilhéus, esses seres com pés de cabra e asas: “a rocha é bastante mais alta e não há vereda. Já só é lugar de pássaro. (...) Até para ser quem éramos, já nos conferiam uma metade de asa”. Leio, volto atrás, sublinho, fico com o livro no colo, absorvendo cada palavra, pasmo para o horizonte ou para as estrelas, acabando por abraçar o livro junto ao peito. Que coice!!! És grande, Valter e só podemos estar gratos. Esta narrativa torna-nos heróis e faz-nos acreditar que até somos um cantinho escolhido por Deus, nem que seja na escuridão. Vieira Natividade, em 1947 e Eduardo Nunes, em 1951, também se haviam dado conta da epopeia deste vilão que atacou a rocha e lapidou a montanha, fazendo deste chão de abismos um canteiro suave e primoroso.

Março entrou molhado e fresquinho. Diz quem sabe que o inverno vem agora e que irá estragar a Páscoa, que este ano vem mais cedo. No entanto, a chuva que caiu nem deu para regar a vinha, mas sei que o caracol que o Roberto plantou na Camacha está viçoso. Há quem tire selfies ou fotografias da areia caseada de mar. Este meu amigo, ao invés, exibe o olho da vinha no telemóvel. Antevejo já a cantilena que vou ter de fazer para que me ofereça um cacho. Mas vai valer a pena, oooh se vai!!!

Tenho seguido as acrobacias do Adriano Andrade com a sua vara (ou garrote) que os nossos hermanos de Canárias chamam de Regatón e que era usada pelos Guanches e com a qual subiam e desciam pelas encostas e abismos, procurando meios de subsistência. Mete-se rocha adentro por lugares que nem os porto-santenses conhecem, sobe e desce, desce e sobe, fica pendurado e meio suspenso. Por vezes, até parece um desenho animado. É cada proeza que nem dá para acreditar. Obviamente que não é de todo aconselhável aos demais humanos. Posso estar enganada, mas até parece que o Adriano pertence a essa espécie especial, descrita pelo Valter Hugo Mãe, que possui pés de cabra e asas. Se pensarmos bem, o madeirense é feito de combustão e de comunhão com o cume, esse lugar mágico onde o céu beija a terra.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas