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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

29/08/2021 08:00

A Ásia e a África têm um crescimento lento mas constante das vocações de consagração, enquanto na América Latina e no hemisfério setentrional continuam a diminuir. Estudos de bispos, sacerdotes e superiores de Ordens religiosas, como das Congregações romanas, continuam a preocupar-se e não parece que seja um problema de comunicação.

La Civiltà Cattolica, Rivista Internazionale dei Gesuiti, o grupo mais numeroso no mundo católico masculino, passou dos 36.038 em 1965 a 14.893 em 2020. Por outro lado, os Salesianos aumentam a curva de crescimento, passando em 2020 de 14.476 devendo tornar-se a Congregação religiosa mais numerosa da Igreja.

Que razões invocar? A humanidade entrou numa situação demográfica fora do normal, mesmo inédita, mas o número de cristãos aumenta e o de mártires também que, segundo Tertuliano, o sangue é semente de cristãos. As famílias numerosas foram sempre um grande terreno fértil para as vocações no decorrer dos séculos, o que ainda hoje acontece nas famílias numerosas da Europa, mas a tempestade da queda de natalidade, a julgar pelas últimas estatísticas, preocupa-nos hoje como um pesadelo com poucas soluções, a não ser para os abortistas e eutanásia.

Ao período após o Concílio, seguiu-se uma profunda crise com um grande abandono de clérigos e as vocações tornaram-se rarefeitas no mundo católico da Europa e na América do Norte. A escolha do celibato pelo Reino de Deus, tornou-se mais contracultura no Ocidente e os praticantes mais tradicionais fornecem o maior número de vocações. Não se trata de atitudes individuais, a sociedade em geral não favorece a fidelidade nem a capacidade crítica para resistir nas dificuldades, nem suportar frustrações e desilusões. Não se pode separar o anúncio do Reino de Deus da escolha essencial feita por Jesus Cristo. Soren Kierkegar escreve, "a Igreja de Jesus Cristo não pode ser ela mesma sem comportar a possibilidade do celibato consagrado". É uma escolha, hoje como ontem, de condividir os sentimentos de Jesus Cristo, de aceitar a morte e a morte da cruz, a humilhação pessoal e social, que se exprime até na falta de uma descendência. A pastoral das vocações deve permitir a um jovem de viver uma experiência espiritual íntima com Jesus Cristo, uma experiência tão forte que todas as outras realidades desvaneçam ao seu confronto.

O Reino de Deus tem sempre o primeiro lugar, é a majestade de Deus na sua incomparável existência que é o Absoluto. O celibato é intrínseco à vida religiosa, mas é de outra ordem para o sacerdócio dos presbíteros, é de outra natureza, de uma profunda conveniência teologal. Cristo é celibatário porque se completaram os tempos, pelo caráter escatológico do seu anúncio do Reino, não por causa da necessidade de consagrar-se de um forma mais concreta e vigorosa a este anúncio. São Mateus escreve: "Há eunucos que se tornara tais pelo Reino dos Céus", (Mt. 19,12).Talvez que as vocações nascerão nas famílias e nas comunidades crentes, onde a fé e o serviço a Deus constituem a escolha contracultura. A aceitação do sacerdócio deve provir dum sentido agudo do Reino de Deus, de uma fé que nasce e se alimenta com os exercícios espirituais, ou seja, para nós como para Jesus, de uma questão espiritual, mística, que encha todo o coração, toda a vida e toda a alma, capaz de conciliar a missão recebida de Deus, com uma relação afetiva com o Pai do Céu e com as outras dimensões, sãs e boas, para abrir a sua afetividade a pessoas de todas as categorias. A Igreja quer manter o sacerdote como pedra angular do seu sistema ministerial.

Quanto às religiosas, cujo número está em crescente queda, perguntam à Igreja qual é a função das mulheres na vida da mesma Igreja?

"Para falar de vocações de consagração, pressupõe-se uma análise rigorosa da sociedade atual, a nível demográfico, sociológico e cultural. Obriga a descobrir um modo novo de propor as vocações na sua radicalidade e na sua frescura evangélica" (Marc Rastoin s.j.). Na França, o maior número de vocações provem do movimento dos escuteiros, há quem pense que o escutismo é uma boa escola de renúncia e de aprendizagem de uma vida, para os outros.

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