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Artigo de Opinião

Psiquiatra

29/06/2022 07:00

Alucinações são sensações dos nossos órgãos dos sentidos, que não existem. Podem ser de qualquer um dos nossos sentidos. Podem ser sons que ouvimos, imagens que vemos, sensações/toques/dores que sentimos, cheiros, sabores, movimentos. Qualquer experiência sensorial humana é possível de ficar alterada, quer seja do interior do nosso corpo, ou do mundo exterior.

Alucinações não são exclusivas de doenças psiquiátricas. Acontecem em muitas outras doenças, em que alguns exemplos são a Doença de Parkinson, Demências, doenças autoimunes como o Lúpus Eritematoso Sistémico entre outras.

As mais frequentes nas doenças psiquiátricas são as auditivas. Os sons podem ser simples, como máquinas a funcionar, passos no andar de cima, música, ... ou complexas, como vozes. Há estudos que revelam que até 30% da população pode ter alucinações auditivas simples. Um dos exemplos é ouvir a campainha ou o telemóvel tocar ou ouvir o nome a ser chamado. Estas não apresentam significado patológico. Algumas alucinações mais complexas podem acontecer quando estamos a adormecer ou a acordar. Estas podem ser também normais e não representar doença. No entanto, é melhor esclarecer sempre com um profissional de saúde.

A experiência de ouvir vozes é algo muito assustador e perturbador. Quem sofre com estas doenças tem de tentar lidar com a realidade e com a doença em simultâneo, o que para além de cansativo é muito difícil. Imaginem o que é estarem a tentar ver um filme, ler um livro, ir às compras ou falar com alguém e terem uma ou mais vozes constantemente a falar por cima de tudo o que está a acontecer. Como é que conseguimos fazer o que quer que seja se temos sempre vozes a falar alto. Nos momentos mais graves podem parecer que estão a gritar, a falar ininterruptamente. Infelizmente muitas destas situações para além da sensação da voz ser tão ou mais forte do que das pessoas à volta, também o tema das vozes costuma ser negativo. A pessoa ouve insultos sobre si, informações que os outros estão atrás de si, a fazerem um complô contra si, ... pode ouvir ainda ordens. Ordens intensas de fazer mal a si ou aos outros. É um sofrimento intenso.

Nem todas as pessoas que ouvem vozes têm de ter todas as intensidades ou gravidades. Felizmente a medicação tem mostrado conseguir fazer desaparecer as vozes numa boa percentagem dos doentes. Existe, no entanto, algumas pessoas que as vozes vão manter-se durante vários anos. Nestes casos, é preciso ajudar a pessoa a conseguir gerir os seus sintomas e conseguir utilizar estratégias psicológicas e comportamentais para as diminuir e conseguirem ter qualidade de vida.

Quem felizmente nunca sofreu, mas tem algum familiar ou amigo que sofre destes sintomas, recomendo a maior das empatias para com a pessoa. É muito difícil interagir com o mundo, quando dentro da pessoa existe um outro "mundo" tão intenso, desgastante e perturbador. Vários autores afirmam que as pessoas que sofrem destas doenças são muito sensíveis e é o que tenho tido a oportunidade de confirmar. São habitualmente pessoas de extrema sensibilidade, que sofrem muito com os comentários e olhares alheios e beneficiam imenso de ambientes calmos e tranquilizantes.

Nas doenças psiquiátricas também é possível aparecerem outros tipos de alucinações, como as alucinações visuais e as outras já descritas. Normalmente não são tão frequentes e quando acontecem podem significar que existem outras doenças importantes por diagnosticar.

Em todas as pessoas, quando aparecem estes sintomas, é fundamental realizarem-se exames e uma avaliação completa. Fundamental para podermos perceber se existem doenças neurológicas ou de outros órgãos e sistemas a causarem estes sintomas.

Apesar das alucinações causarem sofrimento, felizmente podemos na atualidade assegurar uma redução importante destes sintomas e melhorar a qualidade de vida de quem

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