MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

22/08/2023 06:00

São as festas religiosas, as mostras gastronómicas, os festivais musicais, os dias disto e daquilo, enfim, um sei lá quê de motivações para celebrar…

E isso até é bom.

Mas o que me traz, e que foi notícia, são as queixas da restauração, seja ela de restaurante clássico, ou de quiosques provisórios a abarrotar por aí…

Queixam-se os donos desses «habitáculos gastronómicos» da falta de colaboradores.

Referem que alguns metem «baixa» por doença, mas que vão aos arraiais, onde entram na onda, cantam, dançam, bebem, dando mostras de que afinal a «baixa» é uma balela.

Que tais profissionais não manifestam solidariedade com os colegas de trabalho, acrescentam, sobrecarregados para colmatar as faltas dos «doentes».

Pois é. Carradas de razão, à primeira.

Vejamos, porém, alguns detalhes:

Esses colaboradores de restauração, que horário praticam? As oito horas diárias legais? Têm as duas folgas semanais que a lei lhes confere? Quando lhes exigem horas para além do horário, pagam-lhes o extraordinário?

Se lhes vem a coragem de algum alerta, não é usual ouvirem: é assim, não queres, muda-te?

Entram em «burnout», o stress excessivo, pela sobrecarga de trabalho exaustivo, sem descanso recuperador.

Para além de estarem muitas vezes sujeitos a um público que se habituou à pressa, à exigência extrema, mal-educada, aviltante, que o funcionário tem de ouvir e calar, porque o cliente tem sempre razão, sói dizer-se.

Não, não tem, não tem o direito de desrespeitar quem dá o seu melhor.

Vou-vos contar um episódio clarificador:

«Era um grupo de jovens amigos a celebrar. Jantarada combinada, preços acertados, horário previsível de serviço até às 22:00.
Precisei de reservar mesa. Sabendo do jantar de festa, perguntei se correra bem. Às 22:00, ainda nem começado haviam. Soube que terminou pelas 02:00.

Ainda houve limpezas e preparação para a jornada seguinte.

Às nove, o pessoal teria de estar a postos para nova jornada. Descansou mal umas quatro horas, se tanto.

Será justo que aconteçam tais situações? Seria demais aditar ao preço, uma percentagem por cada hora para além do aprazado, que significa muitos encargos acrescidos, para lá do muito mais?

Será razoável tratar pessoas desta forma, e exigir-lhes sorrisos e salamaleques?

Episódios assim dão-me sabor a escravidão e aviltamento. Desrespeito abominável, cada vez mais usual, nesta sociedade de direitos e poucos deveres…

Foram um milhão e meio.

Chegavam de todo o lado.

Embrulhados em riso, carregados de sol, olhos de esperança, mãos à descoberta, braçadas de afetos com sabor universal, mar de acenos, desbobinar de origens, lençol de estandartes, sons de babel, palete de cores e trajos…

Foram engrossando as torrentes de emoções, amarrados na comunhão de vontades e metas que os identificavam, vozes soletrando canções que saíam do coração.

Beberam da mesma fonte que os irmanava, partilhando a sede que os unia.

Não deixaram rastos de destruição, não ficaram montras partidas, nem viaturas em cinza, não vi assaltos de armazéns, nem policiais em sangue…

Vi-os partilhando um colchão de relva ou terra batida, sofrendo o desconforto, na espera duma palavra de bem, dum gesto de bênção e perdão.

Vi-os partir, saudosos já destas Jornadas, revoadas de pássaros dessedentados, prontos a enfrentar longos caminhos, transportando a paixão e a utopia de construir um mundo novo e MELHOR!

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas