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Artigo de Opinião

Jornalista

14/04/2022 16:05

O verde é a sua imagem de marca. Um verde só interrompido pela cor das casas e sobretudo dos palheiros noutros tempos de colmo, mas agora de zinco pintado numa cor amarelada.

Visto à distância o sítio da Achada do Marques parece um pequeno planalto.

Contam-se quase pelos dedos das duas mãos o número de habitantes. Outrora eram mais, muitos mais.

Gente que vivia do que a terra dava. E dava muito.

A Achada do Marques em tempos era terra sobretudo de muito feijão e de muito limão. A agricultura era o modo de vida para quem ali vivia. Uma vida difícil.

Só há relativamente pouco tempo o sítio passou a ter estrada, luz e água canalizada. Até então para lá chegar era necessário percorrer longas veredas que ligavam até ao Lombo Antão Alves em Santana, ou para a freguesia da Ilha. A distância ainda era considerável e era por esses trilhos que se quebrava o isolamento.

Era por ali que se ia às compras ou ao médico até Santana ou até à Ilha. Era também por ali que se transportava tudo. Tudo às costas.

O feijão que dali saia tinha se ser transportado às costas por homens que o levavam em sacas até à estrada mais próxima.

Era também por ali que se transportava o leite que as vacas davam e que constituía uma boa fonte de rendimento. Era também por ali que se faziam as deslocações à mercearia mais próxima em Santana ou na Ilha para se fazer as compras.

Como as distâncias eram longas e tinham de ser feitas inevitavelmente a pé, aproveita-se a ida à missa ao domingo, para esse efeito. Era uma vida dura. Marcada pelo trabalho e pelo isolamento.

Cheguei a visitar este sítio várias vezes nesses tempos porque tinha lá família. Lembro-me de quando pernoitava. Ficava numa cama com um colchão feito de palha. Era confortável. A luz da mesa de cabeceira era um pequeno candeeiro a petróleo. Ali o cheiro e o sabor das coisas eram únicos. Apesar de tudo sentia que aquela gente era feliz.

Sem eletricidade, a comida era toda natural. Não havia frigorífico. A carne do porco era salgada para o ano inteiro. O pão era amassado ao fim de semana e tinha de dar para a semana inteira.

Escusado será dizer que muitos dos habitantes dali emigraram. O despovoamento aqui é bem latente. Com o andar dos tempos alguma evolução também foi chegando ali. Primeiro a eletricidade e depois a estrada. Ainda assim investimentos que não chegaram a tempo de travar um despovoamento acentuado.

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