A vacinação é uma das maiores conquistas da saúde pública. Porém, a falta de adesão à vacinação não implica apenas risco de doença: traduz-se em vidas perdidas (que poderiam ter sido evitadas) e numa potencial pressão acrescida sobre um sistema de saúde já sobrecarregado.
Os números ilustram a dimensão do problema de saúde pública: em 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), ocorreram 13.110 óbitos atribuídos a doenças do foro respiratório. A pneumonia, em particular, contribuiu expressivamente para esta mortalidade, reforçando a necessidade de implementação de medidas preventivas, como a vacinação.
Por detrás de cada número está uma vida interrompida, e muitas destas mortes por doenças respiratórias poderiam ser evitadas pela vacinação. A não vacinação aumenta o risco de doença grave e internamento, ocupando camas que poderiam salvar outras vidas. Em períodos de surtos, como na gripe, os hospitais rapidamente se saturam: camas esgotadas, doentes em corredores e profissionais exaustos, com impacto no atendimento atempado de outras patologias.
Cada hospitalização evitada significa menos pressão sobre equipas já sobrecarregadas, menos desgaste físico e emocional, e mais capacidade de resposta para situações críticas.
A vacinação ultrapassa o cuidado individual e assume uma dimensão ética e altruísta: é um gesto de solidariedade que protege não só quem se vacina, mas também os mais vulneráveis que não o podem fazer, como, p.ex. doentes oncológicos em tratamento. Trata-se de um ato silencioso, mas profundamente humano, que reconhece a saúde como responsabilidade partilhada numa rede interdependente, onde cada decisão individual tem repercussões coletivas.
A vacinação assume-se como uma expressão prática do civismo em saúde pública. Representa a capacidade de pensar para além do “eu” e colocar o “nós” no centro das decisões. É aceitar que a prevenção da doença não se esgota no benefício próprio, mas multiplica-se no bem-estar da comunidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) sublinha que “a vacinação é não apenas um direito, mas também uma responsabilidade cívica, porque a saúde de cada indivíduo depende da saúde de todos” (OMS, 2021). Esta afirmação vem reforçar a ideia de que a imunização não é apenas uma escolha pessoal: é um compromisso com a vida em sociedade.
Cada vacina realizada reduz a probabilidade de morte evitável, alivia a pressão sobre hospitais e permite que os recursos de saúde sejam aplicados de forma eficaz.
Vacinar-se é cuidar de si, mas sobretudo de todos nós, incluindo os profissionais de saúde que necessitam de tempo e condições para tratar quem mais precisa. É também um ato de respeito e reconhecimento pelo seu trabalho incansável, pois só conseguem prestar cuidados de qualidade quando não estão a enfrentar a sobrecarga evitável que a falta de vacinação provoca no sistema de saúde.
Apelo à vacinação, considerando estes dados. Reforço que não se trata apenas de prevenir sintomas ou hospitalizações: trata-se de salvar vidas, em especial a vida daqueles que por natureza já estão mais fragilizados.