MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Jornalista

18/03/2021 09:00

Como é bom de perceber nem sempre foi assim.

E até nem é preciso recuar muito no tempo.

Na minha infância, na minha zona, existiam muitos sítios, onde a "luz" não chegava. Nem eletricidade, nem estrada.

Recordo-me bem dos trabalhos para levar eletricidade a essas zonas. A colocação dos postes e a passagem dos cabos. Trabalhos que envolviam alguma complexidade. Era preciso vencer várias zonas de orografia difícil.

E quando chegava era motivo de inauguração com pompa e circunstância. Até havia espetada para todos.

Até aí mesmo sem luz a vida fazia -se.

Nas casas onde não existia o que eletricidade passou a fazer, era feito à luz do candeeiro e até do lar onde se cozinhava.

Toda a comida era cozinhada com o calor da lenha. Era na lareira que tudo se passava. Juntavam-se uns gravetos ou umas canas vieiras secas que funcionavam como acendalhas. No tempo frio e chuvoso esta operação por vezes era muito complicada. Mas neste apeto a ajuda da vizinhança era fundamental.

As vezes até para acender o lar recorria-se ao lar da vizinha. Atravessava-se a rua, batia-se à porta e pedia-se ajuda. Não raras as vezes presenciaram o transporte de brasas numa folha de couve verde para acender o lar. Eram levadas na mão com muito cuidado para não se apagar pelo caminho. Este processo era meio caminho andado para pôr o lar a funcionar. Poupava-se tempo.

O que os congeladores e os frigoríficos fazem hoje, nesse tempo a forma de conservar alimentos tinha necessariamente de ser de outra. E era.

A carne sobretudo a de porco era salgada e dava para um ano inteiro. Os salgueiros feitos em cimento eram peças obrigatórias em quase todas as casas.

Nessa altura fazia-se pão em casa que tinha de dar para a semana toda. Era acondicionado em toalha dentro de uma cesta de vimes. Hoje congela-se.

A iluminação em casa era feita com candeeiro a petróleo. Havia uns com vidro, um pouco mais sofisticados e outros mais pequenos praticamente só com o recipiente para o petróleo e uma "torcida" de onde saia a chama.

Ambos tinham um pequeno manípulo que servia para regular a intensidade da luz que se pretendia.

Os de vidro eram usados à mesa, ou nos quartos de dormir nas mesinhas de cabeceira. Ainda tenho bem presente que o queimar daquela chama deixava. Aquela mistura de fumo com petróleo.

Existiam também uns maiores com um reservatório grande para o petróleo e um canudo grosso de onde saia a chama. Estes eram usados para as lides no exterior. Eram usados para ajudar em operações de rega ou para cuidar dos animais. Eram também usados para ir ao mar apanhar caramujos.

Era frequente ver os vizinhos nos seus terrenos de um lado para outro com estes candeeiros. Era à luz deles que se regava, ou se ia acomodar um animal.

Sem eletricidade era também o calor das brasas que servia para engomar roupa.

Os ferros de engomar tinham um compartimento que era sucessivamente abastecido para que o calor se mantivesse. Pelo meio era preciso estar sempre a soprar e de vez em quando voltar ao "lar" para reabastecer de brasas.

Gil Rosa escreve

à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

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