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Israel e Hamas arrastam negociações em clima de forte pressão internacional

Data de publicação
11 Abril 2024
16:22

Israel e Hamas tinham pedido 48 horas para analisar o projeto de cessar-fogo apresentado domingo pelos mediadores, mas, com ambos os lados sob forte pressão, nenhuma das partes parece querer abandonar a mesa das negociações em primeiro lugar.

O plano apresentado no Cairo pelos mediadores norte-americanos, egípcios e qataris prevê inicialmente uma trégua de seis semanas, uma troca de reféns israelitas e de centenas de prisioneiros palestinianos, um aumento da ajuda humanitária e o regresso dos habitantes do norte da Faixa de Gaza deslocados pela guerra, segundo fonte do grupo islamita palestiniano Hamas.

A prazo, todos os reféns seriam libertados, bem como um número desconhecido de prisioneiros palestinianos. O exército abandonaria completamente Gaza e levantaria o cerco imposto ao território depois de o Hamas ter tomado o poder em 2007.

Desde domingo, tem havido uma sucessão de anúncios não oficiais e muitas vezes contraditórios a propósito dos desenvolvimentos das negociações.

Em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), Hasni Abidi, do Centro de Estudos e Investigação sobre o Mundo Árabe e Mediterrânico, em Genebra, defendeu hoje que “os negociadores estão num impasse”, pois ainda ninguém desistiu.

”O Hamas está a estudar a oferta”, repetiu na quarta-feira um porta-voz do Hamas. Hoje, David Mencer, porta-voz do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou, por sua vez, o Hamas de “virar as costas” a “uma oferta muito razoável”.

No centro das exigências do movimento islamita palestiniano está um cessar-fogo permanente.

Uma exigência inaceitável nesta fase para Netanyahu, que está determinado a “eliminar” os últimos batalhões do Hamas, que, segundo o primeiro-ministro israelita, estão reunidos em Rafah (sul), onde se refugiaram 1,5 milhões de habitantes de Gaza.

O líder do Hamas, Ismaël Haniyeh, garantiu que a morte de três dos seus filhos num ataque em Gaza, na quarta-feira, não alterou em nada as exigências do movimento.

Os analistas consideram que, se não houver confiança entre as duas partes, o resultado está condenado. O mundo está a observá-los e as populações dos dois países estão nervosas, de acordo com os peritos.

Com mais de 260 soldados mortos, centenas de feridos e uma força reduzida que tem de ser constantemente substituída, as forças armadas israelitas beneficiariam, pelo menos, de uma trégua tática, segundo analistas citados pela AFP.

A retirada, anunciada no domingo, de todas as tropas israelitas, à exceção de uma brigada estacionada no centro de Gaza, sugere que Israel está a dar um descanso aos seus soldados antes da anunciada ofensiva em Rafah, observou Daniel Byman, da Escola de Negócios Estrangeiros da Universidade de Georgetown, em declarações à AFP.

Cada vez mais isolado diplomaticamente devido ao elevado número de vítimas civis em Gaza (quase 33.500 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do enclave controlado pelo Hamas) e aos obstáculos colocados à ajuda humanitária que estão a provocar graves carências, Israel também precisa de marcar pontos no estrangeiro.

À AFP, o especialista Hasni Abidi salientou que isso daria a Telavive algum espaço de manobra em relação ao aliado norte-americano, que está “muito descontente” por não o ter “convencido” a mudar de estratégia.

Enquanto Washington faz tudo o que pode para evitar uma escalada no Líbano, na Síria e no Irão, os ataques israelitas ao consulado iraniano em Damasco, na semana passada, são suscetíveis de “abalar” esta estratégia, referiu o analista.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, realçou Hasni Abidi, ficou furioso e ameaçou condicionar o apoio a Israel à contenção militar e à melhoria das condições humanitárias em Gaza.

Mas, acima de tudo, o que Governo de Netanyahu enfrenta é a cólera das famílias que exigem o regresso dos 129 reféns ainda detidos em Gaza, dos 250 raptados durante o ataque de 07 de outubro passado, que causou a morte a cerca de 1.200 israelitas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

Por outro lado, um acordo de paz poderia “quebrar” a coligação governamental israelita, devido à oposição da extrema-direita a quaisquer concessões ao Hamas.

Um verdadeiro dilema “para alguém como Netanyahu, que não é conhecido por colocar os interesses do seu país à frente da sua ambição política”, observou Daniel Byman.

Por fim, o líder israelita fez desta campanha militar “um assunto pessoal”.

”Não percebo como é que Netanyahu pode reclamar vitória se nenhum líder do Hamas for capturado ou morto”, comentou ainda Hasni Abidi. Entre esses nomes está Yahya Sinouar, chefe do Hamas em Gaza, considerado o cérebro dos ataques de outubro.

Para o Hamas, pelo contrário, uma trégua seria uma vitória simbólica.

Permitiria também “reorganizar-se e efetuar emboscadas contra o exército”, argumentou Omer Dostri, especialista do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS).

”O objetivo do Hamas é recuperar o fôlego, na esperança de que a pressão internacional acabe por conduzir ao fim da guerra”, considerou Dostri.

Para Hasni Abidi, uma trégua também faria com que o Hamas ficasse mais bem visto pela população de Gaza, que está a sofrer e a passar fome.

Mesmo que Netanyahu prometa um futuro sem o Hamas no pequeno território costeiro, o movimento islamita, por seu lado, “quer melhorar a sua imagem e preparar-se para o pós-guerra”, concluiu.

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