As novas autoridades do Bangladesh anunciaram hoje que abriram uma investigação sobre centenas de desaparecimentos forçados alegadamente cometidos pelas forças de segurança durante o governo da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina.
A comissão de inquérito será composta por cinco membros e chefiada por um juiz jubilado do Supremo Tribunal do Bangladesh, segundo indicou um despacho do Governo interino divulgado terça-feira à noite.
A comissão terá 45 dias úteis para apresentar o seu relatório.
No ano passado, a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) afirmou que as forças de segurança foram responsáveis por “mais de 600 desaparecimentos forçados” desde que Hasina chegou ao poder em 2009 e que cerca de 100 pessoas ainda estavam dadas como desaparecidas.
Muitos dos detidos pertenciam aos partidos rivais da antiga primeira-ministra, o Partido Nacionalista do Bangladesh e o Jamaat-e-Islami, a maior formação política islâmica do país.
O executivo de Sheikh Hasina sempre negou as acusações, afirmando que algumas das pessoas desaparecidas tinham morrido afogadas no Mediterrâneo quando tentavam chegar à Europa.
Entre as forças de segurança visadas pela investigação estão dois grupos paramilitares, a Patrulha da Guarda de Fronteiras (BRB), responsável em particular pela segurança das fronteiras, e o Batalhão de Ação Rápida (RAB), uma unidade de elite que combate o crime e a corrupção na polícia e acusada de numerosos crimes de violação dos direitos humanos.
O Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) afirmou que a BRB e o RAB têm “um historial de graves violações dos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e maus-tratos”.
Uma delegação da ONU chegou ao Bangladesh na passada quinta-feira para determinar se há necessidade de investigar alegadas violações dos direitos humanos cometidas durante os recentes protestos, que colocaram fim aos 15 anos de liderança de Hasina.
Além disso, um tribunal especial responsável pelo julgamento de crimes de guerra, criado pela própria Hasina, abriu três investigações contra a antiga primeira-ministra por “massacres” cometidos durante os recentes distúrbios.
Mais de 450 pessoas, incluindo cerca de 40 membros das forças de segurança, morreram durante as manifestações antigovernamentais que levaram à queda de Hasina, em 05 de agosto.
A antiga líder fugiu para a Índia de helicóptero e entregou o poder, antes de centenas de manifestantes entrarem na sua residência em Daca.
Os recentes protestos contra o governo de Hasina foram provocados pelo descontentamento com o sistema de quotas nos cargos públicos que o executivo pretendia implementar.
Hasina pediu, na semana passada, a partir do seu exílio na Índia, uma investigação para encontrar os responsáveis pela morte de estudantes durante as semanas de protestos violentos que levaram à sua destituição.
O líder do Governo interino do Bangladesh é o economista e vencedor do Prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus.