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MADIT’25 expõe engenharia como resposta a crises humanitárias

Data de publicação
31 Outubro 2025
11:26

O primeiro orador do MADIT’25 – Madeira Innovation Talks foi o engenheiro madeirense João Roque, que apresentou o tema ‘Da Madeira para o mundo: a engenharia ao serviço da ajuda humanitária – suporte de vida a populações afetadas por conflitos armados’. A sua intervenção veio mostrar como a engenharia pode ser uma ferramenta essencial na resposta a crises humanitárias e na reconstrução de comunidades devastadas pela guerra e pela pobreza.

João Roque começou por contar o seu percurso, desde a saída da Madeira, em 2001, para estudar Engenharia Civil em Lisboa, até ao mestrado em Itália e às primeiras experiências profissionais em Macau e Xangai, onde integrou projetos de grande complexidade técnica, como o Tribunal Marítimo de Macau e os headquarters da Bosch. Mais tarde, trabalhou para a multinacional Caterpillar, liderando projetos no Dubai e em Joanesburgo, e consolidando uma carreira de sucesso na área da engenharia de construção.

Contudo, foi um episódio inesperado que o fez mudar de vida. Ao observar, num estaleiro, técnicos da UNICEF a construir uma escola, percebeu que poderia colocar o seu conhecimento técnico ao serviço de causas humanitárias. Decidiu então candidatar-se ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), onde viria a integrar o departamento de Water and Habitat, responsável por infraestruturas de abastecimento de água, saneamento e habitação em contextos de crise.

Na Síria, durante o auge do conflito, coordenou projetos de abastecimento de água e de reabilitação de hospitais e campos de refugiados. Um dos trabalhos mais marcantes foi a reconstrução da estação de bombagem que fornece água a quatro milhões de pessoas em Damasco, um projeto que exigiu soluções criativas, trabalho em equipa e grande resiliência perante o perigo constante. Paralelamente, apoiou a construção de centros de reabilitação física para vítimas de minas terrestres, clínicas de emergência e campos de desalojados, testemunhando diariamente o impacto direto da engenharia na sobrevivência e na dignidade das populações.

Posteriormente, foi destacado para a Venezuela, onde enfrentou uma realidade muito diferente. Embora o país não estivesse em guerra, a degradação social e o colapso das infraestruturas básicas criavam um cenário humanitário alarmante. João Roque relatou que muitos hospitais não tinham energia elétrica, água potável ou geradores em funcionamento, e que “um corte de luz superior a duas horas significava game over para os pacientes nas urgências”. Com um orçamento reduzido e uma equipa de apenas cinco engenheiros, conseguiu reabilitar dezenas de unidades de saúde e melhorar as condições de vida de mais de 1,3 milhões de pessoas, num esforço constante para otimizar recursos e garantir resultados concretos.

Comparando as duas experiências, o engenheiro destacou que, na Síria, o maior desafio era a destruição e a insegurança, enquanto na Venezuela era a escassez e o colapso social. Em ambos os contextos, afirmou, o papel da engenharia foi determinante: “Nós, engenheiros, conseguimos ter impacto em situações de crise. Conseguimos melhorar a vida das pessoas, otimizar os recursos e transformar conhecimento técnico em ação humanitária.”

A sua intervenção encerrou-se com um apelo à valorização da engenharia como instrumento de solidariedade e transformação. João Roque demonstrou, com a sua experiência de vida, que o talento madeirense pode ir longe e que a inovação, quando aliada à humanidade, tem o poder de mudar o mundo. O seu testemunho marcou de forma profunda o arranque do MADIT’25, confirmando que da Madeira também se faz engenharia para servir a vida. Da Madeira para o Mundo, João Roque promete continuar a fazer do trabalho humanitário um desígnio pessoal e profissional.

Organizada pela Região Madeira da Ordem dos Engenheiros, com o apoio institucional da Ordem dos Engenheiros a nível nacional, a Conferência ‘MadIT 2025 – Madeira Innovation Talks: Contadores de Histórias de Inovação – Para Partilhar & Inspirar’ visa intensificar a intervenção da engenharia na sociedade e contribuir para a construção de uma “Comunidade do Conhecimento e da Inovação”.

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