Via concurso público, a APRAM adjudicou já controlo da espécie ‘gaivotas’, no porto do Funchal, através da utilização de aves de rapina, até final de 2023. A limpeza da frente mar faz-se com recursos a falcões, começando por ser anual, mas a eficácia do serviço elevou a fasquia já para contratos de três anos, com um custo médio na ordem dos 74,5 mil euros ao ano.
É um serviço extremamente eficaz aquele que presta a Tfalcon Madeira, empresa madeirense que através de concurso público para prestação de serviços de controlo da espécie ‘gaivotas’, no porto do Funchal, com utilização de aves de rapina, tem já contratualizado esse serviço até final de 2023.
A ‘parceria’ começou de forma tímida, com contratos anuais em 2016 e 2017 e valores na ordem dos 54 mil euros, passando depois para um primeiro de três anos, em 2018, no montante de 169 mil euros, chegando-se ao atual, rubricado no final de 2020, por mais três anos, por 219 mil euros. No total, são 596 mil euros derramados por oito anos, que ‘lavam’ a frente mar todos os dias, não sendo complicado recuar até antes deste serviço para recordar o que era a baixa citadina infestada de gaivotas e consequente sujidade produzida. Ao JM, Tiago Cardoso, responsável pela empresa, lembra que "temos a jurisdição do Cais Norte, Cais 8, Pontinha, Cais de São Lázaro e a zona do Molhe, onde o Lobo Marinho atraca. Isso é nosso, 24 horas por dia". A zona da lota, por estar na alçada da Secretaria de Mar e Pescas, está fora deste contrato.
O ‘modus operandi’ é também explicado por Tiago Cardoso. "Trabalhamos com 10 aves de rapina, sete são falcões, que é um predador de topo. Tudo o que está abaixo na cadeia alimentar, de uma forma natural e não exterminativa, acaba por abandonar aquela zona, porque a ave de rapina que ali está tem aquilo como o habitat dela, numa relação predador/presa", explana.
Tecnicamente, "a ave está permanentemente com um falcoeiro. Cada ave tem o seu falcoeiro, que a põe a voar, em voos rotativos, e quando quer que ela regresse, chama-a. Ela não fica lá em tempo algum sozinha. Onde está uma ave, está um tratador. Cada um tem uma ave e trabalha só com aquela ave. E a ave responde ao falcoeiro".
O contrato com a APRAM é apenas uma parte do negócio desta empresa, genuinamente regional. "Estamos também nos aeroportos, no Fórum Madeira, na RAMA e no McDonald’s. Temos ainda 32 hotéis, alguns em território continental. Aqui, fazemos o Grupo Savoy, o Grupo Pestana, Cliff Bay, Enotel, Roca Mar", detendo-se nesta necessidade de as unidades hoteleiras requisitarem os seus serviços.
Assim, explica que "durante o pequeno-almoço, que tradicionalmente é servido na rua, junto à piscina, se não tivermos um falcão junto da piscina, para evitar que as pragas, digamos assim, se aproximem, acabam por incomodar e roubar a comida das pessoas, tornando isso num problema também de saúde pública".
Já com uma forte expansão ao nível continental, Tiago Cardoso ressalva que "temos sede de empresa na Madeira, no Aquaparque", mas que "dentro da área somos a empresa ao nível nacional que tem mais serviços e quando as pessoas procuram vão ter com a nossa empresa e acabam por nos contactar". E desta foram "temos já no continente cerca de 15 serviços". Entre estes, registe-se os hotéis Vila Vita Algarve e The Yetman Porto, mas também o Alma Shoping Coimbra e o Hospital de Santarém, sendo que nestas duas cidades há serviços também prestados às suas autarquias.
Tudo isto envolve muita gente, com a empresa de Tiago Cardoso a reunir já 32 funcionários. A pandemia trouxe problemas acrescidos, mas o empresário orgulha-se de manter todos os postos de trabalho. "Mas tem sido um esforço danado, mais um mês ou dois assim e não sei como vai ser, bato no fundo", confidencia ao JM. Mas rapidamente recupera ânimo e diz esperar que até ao verão isto desconfine.
Nas contas das despesas fixas entram, naturalmente, as referentes às 10 aves. "Só em comida para os animais são entre sete a oito mil euros por mês", partilha, sem esquecer todas as outras obrigações de saúde e seguros agregadas.
Com essa componente de serviço em hotéis, é evidente que "a pandemia afetou também o meu negócio". Mas Tiago Cardoso exalta que "não despedi ninguém. São 32 pessoas que estão e estiveram sempre no ativo. Todos a trabalhar. Tem sido um enorme esforço financeiro para manter todo o pessoal. Por exemplo, nos portos, se poderia ter quatro pessoas, temos lá oito, no aquaparque poderia ter duas pessoas a trabalhar, a cuidar dos animais, tenho lá cinco, no aeroporto bastariam três e tenho cinco…" E releva que "eles neste momento precisam da minha ajuda e vai chegar o momento em que precisarei da ajuda deles".
Por David Spranger