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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

21/05/2023 08:00

São Lucas é um admirável escritor da língua grega que escreveu aos cristãos o terceiro evangelho e o Livro dos Atos dos Apóstolos. Deveria ter nascido de uma nobre família pagã em Antioquia, da Síria, importantíssima cidade romana, quase no fim do império

dos Césares. Foi médico na sua cidade, num tempo em que a medicina não curava muitas doenças, o seu coração sensível e muito humano deveria sofrer com a ignorância da vida após a morte. Não tinha certezas. Mas quando chegaram os evangelizadores Paulo e Barnabé que anunciavam a mensagem cristã, ele vibra de entusiasmo e certeza da vida futura, escreve ao seu amigo "o excelentíssimo Teófilo para que reconheça a firmeza dos ensinamentos que recebeste".

Lucas pertence à esfera dos homens cultos gregos, sendo agora cristão, ele entra em contacto com a tradução do Antigo Testamento dos Setenta, vibra de entusiamo com algumas narrações dos nascimentos de heróis bíblicos, que imita nas narrações do "Evangelho da Infância", porque julga que essa forma inspirada por Deus é a mais adaptada para as suas narrações.

De modo especial, a sua alma poética é sensível à beleza, aprecia a narração da Arca da Aliança que Moisés, no deserto do Sinai, mandou construir para dentro dela colocar as duas tábuas dos dez mandamentos, um pouco de maná do deserto e a vara de Aarão que florescera. Entre dois anjos de ouro estava o propiciatório, o lugar mais santo onde Deus manifestava a sua presença. Com o rei David a Arca da Aliança entrou em Jerusalém que se tornou a cidade do grande Rei.

Como bom historiador, Lucas recorre às fontes históricas, na cidade de Antioquia

ele encontra cristãos da primeira hora, batizados, que lhe fornecem excelentes informações, mas é principalmente durante os dois anos em que esteve na Palestina durante a prisão de São Paulo em Cesareia, que ele teve tempo e o mérito de recorrer aos apóstolos, aos familiares de Jesus e à Virgem Maria. Este historiador exigente encontra tantas informações que, no início é tido como o pintor da Mãe de Jesus, como ainda hoje pensa e ensina a igreja ortodoxa. Pintor, sim, não com um pincel, mas com uma pena de escritor.

Lucas é um espírito muito delicado que sabe unir independência das fontes e, quando cita São Marcos, não o imita, mas continua sempre igual a si mesmo. Lucas tem numerosas narrações que lhe são próprias, como nenhum outro evangelista, recolheu tanto factos da vida de Jesus como da Mãe do Senhor, das primeiras comunidades de Jerusalém e da vida de São Pedro e São Paulo.

Em relação com o Papa Francisco, na preparação dos jovens JMJ, o Papa teve a sabedoria e iniciativa de escolher duas palavras da cena lucana da visita de Maria de Nazaré a sua prima Santa Isabel. Narra o texto grego: "Naqueles dias, Maria pôs-se em viagem, para uma região da montanha apressadamente..." (Lc.1,39) o texto grego diz (metá spoudés), Maria não se levantou depressa da cadeira, como escreveram alguns escritores. A pressa era necessária porque de Nazaré a Jerusalém distam 140 quilómetros, 3 a 4 dias de viagem e, até à cidade sacerdotal, onde viviam os sacerdotes com suas esposas, entre eles Zacarias e Isabel, é preciso cerca de uma ou duas horas a pé.

Em que pensa Lucas quando descreve esta visita de Maria a sua prima Isabel? Relaciona Maria com a Arca da Aliança, Maria é a nova e verdadeira Arca da Aliança que leva no seu seio o Autor da Lei, o Filho de Deus Vivo. A antiga Arca da Aliança tinha desaparecido quando Nabucodosor destruiu o Templo e cidade de Jerusalém.

Maria corre apressada porque é a primeira apóstola de seu Filho Jesus. Isabel ao receber a saudação de Maria, o menino, que será chamado João, saltou-lhe no ventre. Ela ficou cheia de Espírito Santo, tornou-se profetisa, e exclama em alta voz: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito és o fruto do teu ventre. Donde a mim esta dita, que venha a ter comigo a Mãe do Meu Senhor".

Isabel gritou em voz alta, novamente Lucas coloca uma senhora idosa a gritar de alegria (qrugí megale). Neste clima de suave alegria, Lucas continua com os cânticos, o de Maria, A minha alma glorifica o Senhor, e o de Zacarias: Bendito seja o Senhor Deus de Israel.

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