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“Memórias de Abril são fundamentais para todos e, em particular, para aqueles que trabalham a Educação”

Paula Abreu

Jornalista

Data de publicação
22 Abril 2024
17:41

“Uma sociedade não tem futuro se não tiver memória. Uma Educação não tem futuro se não preservar a memória. Vivemos tempos em que há um excesso de futuro e um enorme défice de memória”. As palavras são de António Teodoro, professor catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e diretor do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento.

Foram proferidas esta tarde, em declarações aos jornalistas, momentos antes da conferência ‘Revolução Portuguesa e a Educação’, dinamizada pelo Centro de Investigação em Educação da Universidade da Madeira, com moderação de Nuno Fraga, professor da Faculdade de Ciências Sociais da UMa.

O palestrante, membro fundador do movimento sindical docente em Portugal, entende que as memórias de Abril de 1974 podem ser distantes para os jovens, mas são “fundamentais para todos e, em particular, para aqueles que trabalham a Educação”.

António Teodoro lembra que foi a revolução de 25 de Abril que também possibilitou revolucionar a Educação, num país com uma alta taxa de analfabetismo e com uma lista restrita de alunos no ensino superior.

“O que verificamos é que desde essa data, com conflitos e desencantos, mas também com muitas conquistas, houve um consenso de dar prioridade às questões da educação. Essa prioridade trouxe para o primeiro plano as profundas transformações. Temos hoje 10 vezes mais estudantes na universidade do que essa altura, os níveis de escolaridade são completamente diferentes”.

Mas, há problemas. “Não tanto na Madeira, mas no continente, que é a falta de professores”. Numa sociedade portuguesa “desigual”, a educação reflete “muito essa desigualdade”, lamentou, considerando que “a educação não resolve tudo, não é panaceia para todos os males”.

Dos desafios atuais, o especialista entende que é necessário retomar “uma certa centralidade e prioridade”, depois de, nos últimos anos, o setor ter sido entendido pelo seu valor instrumental, ligado às questões de produtividade na economia, ao empreendedorismo e muito menos às questões da cidadania, de fortalecer o tecido social, dar sentido de pertença”.

Uma centralidade que tem de dar atenção a quem trabalha no setor, que fale para o interior da escola e que contribua para a resolução dos problemas, como a falta de docentes, mas também para a nova realidade de uma escola pluriétnica, com muitos filhos de migrantes.

Instado sobre os tempos conturbados que a classe docente vive, com greves várias, António Teodoro espera que, com o compromisso assumido pelo governo de Luís Montenegro, com um “enorme consenso” também da oposição, de resolver a questão da recuperação do tempo de serviço dos professores, esse período seja ultrapassado.

As reivindicações dos professores não são a principal questão da Educação, “mas foi uma questão simbólica que não permitiu existir paz social”. E, nesse sentido, entende que a sua resolução “vai permitir equacionar os problemas maiores que a Educação tem, como a falta de professores, a diversidade cultural e étnica, os problemas da inclusão, os problemas relacionados com a própria gestão das escolas e de participação”.

A seu ver, “a escola não é só futuro, mas não pode ser o espaço de agudizar tensões. Tem de ser um espaço público onde é possível viver junto, onde as crianças se habituem a lidar com o que é diferente, com línguas, religiões e cores diferentes”.

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