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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

2/02/2023 08:00

Este extremismo, influenciado por certas lideranças e financiado por certos agentes, encontra-se já num novo patamar: se antes procurava minar o funcionamento das instituições e aproveitar-se da frustração das pessoas, estamos agora num plano em que nem os resultados eleitorais são aceites, se não agradarem. E se aquela invasão, vista a esta distância, foi uma folclórica tentativa de golpe, a verdade é que o pano de fundo que mobiliza e caracteriza aquelas gentes continua lá. Estamos preparados para conviver com movimentos que nem sequer aceitam resultados de eleições livres?

Um dos aspetos mais característicos destes movimentos, além das certezas morais e da divisão sectária entre o "nós e eles", corresponde à forma peculiar com que lidam com a realidade: se o nosso candidato não foi eleito, então houve fraude; se houve vandalismo, então foi porque alguém se infiltrou no movimento.

Quando nos confrontamos com uma realidade que contraria as nossas crenças ou atitudes, diz-se que estamos num estado de dissonância cognitiva - a realidade não confirma o que pensamos e daí ocorre uma espécie de desconforto psicológico, de dimensão proporcional à importância que o assunto tem para nós. Normalmente, há duas formas para lidar com esse desconforto psicológico. Uma é mudarmos a nossa crença ou atitude, uma vez que a realidade não confirma a nossa ideia inicial. A outra forma, paradoxalmente, é a que vai no sentido oposto, isto é, resolvemos a dissonância reforçando ainda mais aquilo em que acreditamos. E a partir daí, o céu é o limite - até é possível não acreditar em resultados eleitorais!

Se muitos dos que votaram em certas personagens parecem viver numa realidade paralela de ideias delirantes e têm predisposição para a transgressão - a lei e ordem apenas se aplica aos outros - certamente que há também muitas pessoas que não se enquadram nesse perfil e que, portanto, são mais capazes de processar a realidade. Pessoas com quem é possível interagir, no confronto democrático de ideias, e que até a forma como votaram decorreu sobretudo de um clima de polarização e de confrontos identitários.

Se não nos queremos habituar a que o extremismo ocupe todo o espaço, mas que fique o mais circunscrito possível, é também nessas pessoas que importa pensar, investindo-se na prevenção da radicalização e promovendo o terreno comum e o consenso democrático - obviamente não obstante as diferenças - no qual as forças moderadas têm um papel central. E é também importante pensar na necessidade das forças e agentes democráticos se focarem no que preocupa essas e todas as pessoas, bem como, já agora, terem um comportamento que não incentive nem reforce as crenças tribais e conspiratórias por parte de quem a elas é suscetível.

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