Vivemos um tempo estranho. Falamos sobre tudo, opinamos sobre todos, mas raramente paramos para ouvir ou sentir de verdade. É como se a vida tivesse virado um grande ruído, um emaranhado de vozes, imagens e notificações que se sobrepõem sem nos dar espaço para respirar.
Corremos de um assunto para o outro, de um ecrã para o seguinte, e no meio desta pressa esquecemos de olhar para aquilo que está diante de nós. Quantas vezes passamos horas a deslizar o dedo no ecrã do telemóvel, atentos a vidas que não são as nossas, enquanto a nossa própria vida fica em pausa?
Preocupamo-nos com o que é tendência, comentamos polémicas passageiras, rimo-nos de vídeos de segundos, mas será que nos lembramos da última vez em que escutámos alguém sem pressa, sem olhar para o relógio? Será que ainda sabemos contemplar um pôr-do-sol sem sentir necessidade de o fotografar para provar que estivemos lá?
A verdade é dura: deixámos de valorizar o essencial. A simplicidade de uma conversa sem interrupções, o silêncio que nos ajuda a pensar, o toque que nos aproxima, a leitura que exige tempo. Tudo isso parece aborrecido num mundo que nos pede rapidez e novidade constante. Mas é justamente aí que reside o perigo: quando tudo é urgente, nada é realmente importante.
E, no entanto, bem lá no fundo, sabemos que precisamos de mais. Precisamos de momentos de pausa, de profundidade, de presença. Precisamos de desligar o ruído para voltar a sentir a vida com clareza. Talvez seja este o maior desafio do nosso tempo: reaprender a olhar para dentro, a cuidar de nós e dos outros, a dar atenção ao que não brilha nas redes sociais, mas enche-nos o coração.
Resistir à superficialidade não é fácil. Mas pode começar com pequenos gestos: deixar o telemóvel de lado durante uma refeição, ouvir alguém até ao fim sem interromper, caminhar sem pressa observando os detalhes do caminho. Esses gestos, simples e quase invisíveis, são atos de resistência num mundo que insiste em distrair-nos.
No fim, talvez o verdadeiro luxo não esteja em ter mais, mas em sentir mais. Prestar atenção. Estar presente. Viver de forma inteira, mesmo que isso signifique ficar de fora da avalanche de futilidades que todos os dias nos arrasta.