Entre os vencedores está, objetivamente, a coligação governamental. A oposição, que procurou fazer das eleições um referendo à governação, falhou redondamente e a vitória no Funchal foi o culminar da estratégia bem sucedida das direções dos dois partidos.
Já muito se falou do PS, mas a dimensão da derrota na capital e o facto do (ainda) líder, em articulação com o ex-presidente do Grupo Parlamentar, ter conduzido à derrota política um conjunto importante dos seus deputados, tornou a saída de Paulo Cafôfo inevitável. Pelo menos, até 2023. Guardarei religiosamente o artigo de imprensa no qual Cafôfo afirma que não será candidato à presidência do Governo nas próximas "regionais", porque "vagas de fundo" como aquela que, em 2019, o levou a dar o prometido por não dito e abandonar o Funchal à sua sorte, tendo contribuído, em muito, para a derrota de Miguel Gouveia, parecem ser uma tradição socialista.
Naquilo que respeita ao CDS que é, obviamente, o partido que mais me interessa, está no rol de quem venceu, tendo atingido os principais objetivos propostos pela direção e sufragados nos órgãos internos, ou seja, contribuir decisivamente para recuperar o Funchal e voltar a vencer Santana, a solo. Daqui a alguns dias, o CDS terá representantes em 9 dos 10 executivos das freguesias da capital e terá, pela primeira vez na história do poder autárquico democrático, uma vereação executiva na CMF, que será exercida por um dos melhores quadros do partido, a Margarida Pocinho. Em Santana, mais uma vitória, com a particularidade de ter sido a primeira vez que o Márcio Dinarte foi a votos na qualidade de cabeça de lista. Um teste suplantado com brilho quer pelo candidato, quer pelo partido.
Em alguns concelhos, correu mal. Em Câmara de Lobos e na Calheta perderam-se vereadores (e uma junta de freguesia). É verdade e a verdade não se esconde. Pese o trabalho quer do Amílcar, quer do Gabriel, dois candidatos (quase) unânimes no partido, não foi possível chegar aos objetivos. No primeiro caso, a máxima "por um se ganha, por um se perde", fez-se sentir, porque se em 2017 o partido elegeu por pouco, em 2021 falhou por pouco. Na Calheta, a queda não vem de agora - basta consultar os resultados de várias eleições - e merece reflexão quer das estruturas locais, quer da direção do CDS. Mas foram derrotas e há que assumi-las e pensar sobre elas.
A Ponta do Sol foi um caso à parte. Estou convicto de que sozinho, face à bipolarização que se adivinhava e que se comprovou, o CDS perderia o seu vereador, por mais boa vontade que houvesse. Coligado com o PSD, também não atingiu o objetivo, sendo que ambos os partidos sofreram do mesmo mal: quando a visão local se procura sobrepor à estratégia global, as coisas não resultam. Continuo a advogar que a lógica de trabalhar coligações nos municípios onde PSD e CDS estavam na oposição fazia sentido, evitando dispersão e evitando que as dinâmicas concelhias influenciassem a governação regional. O mesmo entendimento não teve a estrutura da Ponta do Sol; o mesmo entendimento - ainda que por outras razões - não terá tido a estrutura local do PSD e o resultado foi aquele que se viu.
Num balanço genérico e utilizando - para que seja mais perceptível - linguagem futebolística, é francamente melhor ganhar, mesmo sofrendo golos, do que empatar zero-zero. Foi o que aconteceu ao CDS: ganhou porque marcou mais golos do que sofreu e hoje, exerce mais influência na governação e na política regionais do que exercia antes das "autárquicas".
O Governo entrará mais reforçado na segunda parte do mandato, que se inicia agora. Dentro do Governo, o CDS não sai destas eleições enfraquecido, pelo contrário, e o resultado do Funchal mostra-o sobremaneira. Sem os constrangimentos da pandemia, os próximos dois anos poderão servir para pôr em andamento projetos que a emergência adiou e que são muito interessantes para o futuro da Madeira e nos quais e para os quais o CDS dará um contributo decisivo e que será reconhecível pelos cidadãos. Serão mais dois anos sem jogar para o zero-zero.