Há histórias reais, bizarras, de congelar o coração, que parecem retiradas de um qualquer argumento ficcional. Depois há outras, muitas vezes construídas no silêncio da solidão, que confundem a realidade com a fantasia. Também nestes casos, o coração de quem as ouve congela, ou pelo menos deveria, face à perturbante imaginação de quem vive num mundo de ilusão.
Muitos têm dificuldade em discernir a utopia da verdade. Mas nem todos o fazem com malícia. A ingenuidade do sonho turva a visão dos mais sensatos. Tanto que pessoas, normalmente ponderadas, acabam muitas vezes a acreditar no Pai Natal. Mesmo fora de época. Nesses casos, o caminho até ao desequilíbrio, principalmente emocional, é um foguete.
É preciso, por isso, coragem a quem ouve os devaneios. Para chamar à razão quem se deixa levar por histórias fabricadas ou enganos muito bem medidos por quem os difunde. Neste âmbito, a imprensa tem responsabilidade acrescida. Porque mais do que chegar primeiro, importa não faltar à verdade. Ouvindo uns e outros, é certo, mas com a preocupação de perceber quem não cumpriu com o que prometeu ou quem se esqueceu do que disse anteriormente.
Não pode, por exemplo, passar em claro as incongruências de quem tem o dever de prestar esclarecimentos públicos. Como os que ocorreram no Parlamento, depois de o governante, Pedro Ramos, ter garantido que o relatório dos incêndios de agosto estava por concluir e o presidente da Proteção Civil afiançar que já está pronto há 40 dias. Não queremos com isto transmitir a noção de que alguém está a faltar à verdade. Se bem que seja notório, pelo menos, que a comunicação entre a tutela e os serviços de proteção civil está em extremos opostos. Particular que já foi notório na altura dos fogos, quando chegaram os aviões Canadair, ou com as críticas manifestadas pelos próprios operacionais no terreno.
É sempre assim quando, eventualmente, a prioridade parece ser a de ficar melhor na fotografia. Quando, na realidade, as melhores fotos surgem com a naturalidade de quem age sem a preocupação de estar a ser observado.
Ninguém está livre de errar, atenção. Só não erra quem nada faz e passa o tempo a apontar os erros dos outros. Mas, insistir no erro é que deve ser motivo para corar de vergonha.
No Parlamento madeirense não há delitos de opiniões. Não pode haver. Cada um diz o que pensa, cada um acha que tem razão, cada um sabe o que é melhor para a Madeira.
O melhor, garantem todos, é seguir as políticas que defendem até à exaustão. Uns apostam na subida do salário mínimo, outros em medidas anticorrupção, todos falam na valorização salarial dos trabalhadores, etc. A ausência de um governo de maioria absoluta poderia abrir caminho a muito, ou pelo menos ao orçamento mais democrático que a Região já assistiu. Mas não. A atual democracia vacila para dar razão às escolhas do povo, que entendeu não atribuir a maioria a nenhum dos partidos. E a ameaça de novas eleições pode voltar a ditar mais do mesmo.
Vamos continuar nisto até quando?