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Artigo de Opinião

Geógrafo / Colaborador Europe Direct Madeira

23/05/2024 08:00

Por estes dias frenéticos, pouco ou nada se fala de europeias no contexto regional, pois claramente todas as fichas vão a jogo já no próximo domingo com as eleições regionais. Mas no contexto nacional a disputa está mais acesa, com os olhos postos em Bruxelas (Parlamento Europeu, leia-se), aquela entidade distante, e usualmente criticada, mas onde todos ambicionam chegar. A questão é saber o que querem fazer os políticos depois de lá estarem instalados! E de facto, em bom rigor, é “apenas” isto que separa os 17 partidos políticos que se candidatam às europeias: saber o que farão (ou pelo menos, o que pretendem em teoria fazer) no PE, caso sejam eleitos. Para isso, também será importante saber como funciona a UE e, devo dizê-lo com alguma mágoa que, depois de alguns debates e outras tantas entrevistas, fico com uma estranha sensação de que alguns destes candidatos(as) nem saberão ao certo o que está realmente em jogo, tamanha que são as fragilidades evidenciadas do ponto de vista técnico. Mas a democracia é isto mesmo, cabendo aos eleitores a palavra final.

No meio deste rebuliço de semi-campanha, apercebi-me também que o número de vozes críticas sobre o projeto europeu tem crescido. Não necessariamente por serem “do contra”, mas por acharem que a UE tem falhado demasiadas vezes. E aqui entramos no universo paralelo dos treinadores de bancada que assistem aos acontecimentos em total silêncio, para numa fase posterior, manifestarem a sua autoridade moral e total clarividência, apontando o dedo à UE e, em particular, às suas instituições. E é tão fácil fazer este papel(ão). Faz-me lembrar os comentadores da bola que, independentemente dos resultados, conseguem quase sempre levar a água ao seu moinho, perpetuando a razão plena dos seus raciocínios ao longo de 90 minutos.

Sobre a UE, não podemos ignorar que, mesmo havendo linhas gerais de atuação perfeitamente delineadas pela Comissão e pelos próprios Estados-membros (por via do Conselho Europeu), não deixa de haver uma enorme dose de improviso que, nos últimos tempos, tem sido posta à prova ao mais alto nível. Vejamos o caso da COVID-19: houve erros na gestão do processo? Claro que sim! Mas foram as respostas possíveis perante uma ameaça terrível para a qual não havia nenhum manual de procedimentos elaborado. Os alargamentos e a adesão ao euro de diversos Estados-membros foram política, social e economicamente bem acautelados? Possivelmente não, em toda a sua extensão. Enfim, o número de exemplos que poderiam ser aqui referidos é infindável. A UE teve, tem e terá sempre falhas ao longo do seu processo de realização e desenvolvimento. Mas, goste-se ou não, a UE será aquilo que os cidadãos e os Estados-membros quiserem e permitirem que ela seja.

Não raras as vezes, dou por mim a explicar aos mais jovens que a gestão do projeto europeu é muito semelhante ao que acontece nos nossos agregados familiares. Quando em jovem constituí família, não pensei em momentos difíceis. Havia vontade de crescer, de consolidar o património e o otimismo era determinante. O céu era o limite dos muitos sonhos que iam surgindo. Mas a vida foi trazendo surpresas para as quais não estamos verdadeiramente preparados e, caso a caso, procurei dar resposta o melhor que sabia, com a informação que dispunha, a cada momento que fui posto à prova. Umas vezes acertei e fui bem-sucedido, outras falhei. E aí não sobra outra solução que não seja a de refletir e tentar aprender com os erros. Do alto do meu meio século, é tão fácil olhar para trás e apontar milimetricamente onde errei! Às vezes, até no mais óbvio. A UE, com toda a sua extrema complexidade, não é diferente disto. É apenas e só, uma família (numerosa) com 27 elementos que vai crescer ainda mais no futuro próximo, com tudo o que de bom e menos bom isso possa vir a representar. Os desafios são enormes, mas as oportunidades que se podem criar serão seguramente maiores.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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