Quando, no passado dia 15 de agosto, nos consagrámos a Nossa Senhora do Monte, através da oração, emocionei-me.
Ao meu lado, no corredor da Igreja, de joelhos, gente mais emocionada, mais crente, mais imbuída no espírito e, quem sabe, a sofrer, pedia, também à Senhora, uma bênção, uma salvação, uma luz.
Na fé, como na vida, a emoção torna-se a tábua de salvação através da qual, de dentro de nós, fluem as mais diversas expressões do viver. E essa premissa serve para o bem e para o mal.
Nos últimos dias, diante dos incêndios que voltaram a assolar a nossa ilha, cada qual, à sua maneira, tem sentido, à flor da pele, um conjunto de sensações inigualáveis e indissociáveis.
É por isso que, nesta oportunidade, quero, sobretudo, endereçar um abraço e um agradecimento às mulheres e homens que têm combatido as chamas, bem como a todos os que, nas suas diversas funções (de saúde, sociais, autárquicas, entre outras), têm cuidado de nós e dos nossos, colocando a vida e as emoções dos outros à frente das suas. Mais uma vez.
Depois, importa lembrar, enaltecer e agradecer aos populares. Aqueles que, diante do inferno na terra, colaboram com as autoridades, defendendo o que é seu e o que é de todos, mesmo na iminência aterradora da perda.
Reconheço-os, pela força e pela resiliência. Pelo exemplo e pela tenacidade.
Também neste momento, que, quiçá, pedia algum recato nos “achismos”, por respeito a quem continua a sofrer, não têm faltado as intervenções políticas rocambolescas. Essas, de deixar qualquer um com os nervos em franja.
Não se pense que os parágrafos que se seguem são uma defesa velada a qualquer ação ou palavra, até porque planos e estratégias têm de ser adaptados ao ritmo de um fogo que nem sempre se controla.
As palavras que se seguem são, apenas e só, a constatação clara (da falta) de carácter de que se fazem algumas pessoas.
Paulo Cafofo veio a público pedir o apuramento de responsabilidades. Diz que foi manifestar “apoio solidário” do partido aos envolvidos no incêndio.
Qual partido? O Partido Socialista, aquele que governava o país quando, em Pedrogão Grande, deflagrou o que se confirmou como o maior incêndio florestal de sempre em Portugal? Aquele que vitimou mortalmente 66 pessoas, fez 253 feridos e destruiu mais de 500 casas e 50 empresas? Aquele que foi o mais mortífero de Portugal e o 11.º mais mortífero a nível mundial (desde 1900)?
Qual partido? O Partido Socialista que o camuflou e que o suportou na queda da árvore do Monte, prejudicando os próprios camaradas que, até hoje, decerto, sentem, à flor da pele, as consequências de um processo e de uma emoção sem fim?
Qual partido? O Partido Socialista que, enquanto Estado, nunca quis pagar o meio aéreo de combate a incêndios florestais, deixando que a Madeira o assumisse e que noticiou, por estes dias, que vai propor, por resolução, a aquisição de um novo meio aéreo pago pela República?
“Incompreensível e irresponsável”, incoerente e de uma desfaçatez sem igual é a conduta de quem aparece à mercê da politiquice e amarrado às emoções de outros, aproveitando-se da fragilidade e da vulnerabilidade humanas.
Tragédia maior do que a destes últimos dias, só mesmo sermos governados por esta gente.