E se, devido à falta de professores, um engenheiro fosse contratado para ser professor de matemática?
Em qualquer dos três exemplos o problema que se coloca é exatamente o mesmo. Nenhum dos profissionais anteriormente referidos tem formação adequada para as funções que supostamente iria desempenhar, apesar de todos serem licenciados.
Falando especificamente da formação de professores, temática a que dedico o meu artigo e a que dediquei grande parte da minha vida, afirmo que ser professor é muito mais do que debitar uma lista de conteúdos científicos.
Não se nasce professor. É preciso aprender a ser professor. O conhecimento científico na área de lecionação é fundamental, mas insuficiente. É necessário aprender diferentes metodologias de trabalho em sala de aula enquanto aluno da formação inicial de professores para construir-se como professor. É essencial aprender a avaliar aprendizagens, que é muito mais do que passar dois testes e usar uma folha excel para determinar a classificação dos alunos. É importante aprender a integrar as tecnologias no processo de ensino-aprendizagem com metodologias adequadas e com processos de avaliação em consonância com o trabalho que se faz em sala de aula. É importante conhecer a orgânica das escolas, e perceber a administração escolar. Tudo isto e muito mais se aprende na formação inicial de professores - o mestrado em ‘ensino de’.
O problema que agora se coloca - o da falta de professores - era já previsível há bastante tempo. Cerca de 10 000 professores desistiram da profissão e o número de estudantes em mestrados em ‘ensino de’ caiu 70% , para não referir o número de aposentações que se avizinham.
Uma profissão outrora bastante valorizada socialmente, hoje nada aliciante devido a um número elevado de fatores, maioritariamente relacionados com a desvalorização que a profissão foi sofrendo ao longo dos anos.
Não existiu uma política educativa acertada que investisse na antecipação deste problema e que criasse incentivos para atrair jovens para a profissão, para fixar os professores às escolas criando alguma estabilidade para os docentes e para a escolas.
Fazer o re-skilling de licenciados desempregados pode ser uma solução, mas é preciso formá-los para a profissão, dando condições às universidades para investir nestas áreas, agilizando os morosos processos de acreditação pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), criando condições para fixar os professores às escolas e acima de tudo planeando o futuro para que não voltemos a estar onde estamos hoje.
Elsa Fernandes escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas