MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Geógrafo / Colaborador Europe Direct Madeira

9/10/2025 08:00

Com os meus pais, aprendi desde muito cedo que o ato de poupar não é um capricho, mas um exercício de responsabilidade, resultante dos sonhos construídos no nosso imaginário e das legítimas inseguranças, face às incertezas do futuro. Sou de uma geração que recebia um porquinho mealheiro para engordar até à Festa, altura em que, entusiasticamente, se abria o “tesouro” e se inicia um processo aritmético básico, em busca de um resultado tão gordo quanto possível. O incentivo era simples: poupávamos e constituíamos um depósito, na firme certeza que o tempo encarregar-se-ia de devolver esse dinheiro, acrescido de um montante generoso, decorrente dos juros (altos) então praticados. Eram tempos difíceis para quem precisasse de recorrer à banca para contrair empréstimos, mas altamente gratificantes para quem fazia o esforço de poupar.

Com o evoluir dos tempos, a relação de proximidade com as instituições bancárias foi-se perdendo, com grande parte das operações a ocorrer exclusivamente na esfera digital. Por arrasto, o gerente do banco deixou também de ser uma das insuspeitas referências da sociedade, à semelhança das restantes duas que compunham a mítica tríade da confiança: o professor e o padre!

São os sinais da modernidade, dirão alguns! Não duvido, mas uma coisa tenho como certa: independentemente da forma ou do estilo, o ato de poupar continua válido, pois gerir receitas e despesas, encontrando equilíbrios, é algo fundamental na gestão de qualquer orçamento. Também por isso, hoje fala-se cada vez mais de literacia financeira, para minimizar o descalabro que por aí se vê, com os algoritmos (facilitados pela IA), a manipular cada vez mais os nossos hábitos consumistas.

Neste contexto, um estudo recente revelou que 61% dos portugueses não faz qualquer tipo de investimento financeiro, uns por opção consciente, outros por não terem poupanças que o permitam. Acrescentaria, outros ainda, por mera insatisfação com o sistema, pois amealhar dinheiro e fazer crescer as poupanças é qualquer coisa de incrível, com a banca que temos. Todos temos ainda presente aquele dia em que o Presidente da República pediu aos bancos “um esforçozinho” no pagamento de juros decentes pelos valores que os portugueses mantinham depositados. A banca tem, de facto, esta virtude inigualável de reagir muito lentamente às subidas das taxas do BCE, evocando mil e um argumentos para não pagar o devido valor pelos depósitos. Para ajudar à festa, convém relembrar que sobre as poupanças que cada português confia à banca, o Estado Português chama a si 28% sobre o valor dos juros recebidos! Numa aula de literacia financeira para crianças, dir-se-ia que, por cada 10 rebuçados amealhados, 3 ficam para o Estado! E, possivelmente, um outro ficará no Banco, à conta das famosíssimas taxas e taxinhas.

É neste cenário que Maria Albuquerque, Comissária dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos apresentou duas grandes iniciativas: a melhoria da literacia financeira e a definição de um plano para as contas de poupança e investimento - Savings and Investment Account (SIA), ou seja, contas que permitam aos cidadãos investir mais em instrumentos financeiros, como ações, obrigações e fundos de investimento, rentabilizando-se o facto dos cidadãos da UE apresentarem uma das taxas de poupança mais elevadas do mundo.

A ideia é “simples” e inspira-se em modelos já existentes, por exemplo, na Suécia. Com os SIA, perspetivam-se novas formas de investimento mais atrativas que os depósitos bancários tradicionais que se revelam cada vez menos claros e atraentes para o cidadão comum, repletos de condições de aplicabilidade complexas, que em nada abonam a favor do pequeno aforrador e apenas estimulam o renascimento do colchão como instrumento privilegiado para a retenção (imprudente) das poupanças. A ver vamos, como os Estados-membros (e a banca!) reagem a estas recomendações de um novo instrumento financeiro.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Como avalia o desempenho das autoridades no combate ao tráfico de droga?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas