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Artigo de Opinião

13/11/2021 08:01

O biscateiro normalmente tem serventia para tarefas manuais, mas parece ter feito a sua entrada triunfal noutros meandros, assumindo contornos surreais. É a arte do novo biscate.

Na verdade, aquilo que outrora exigia alguma estabilidade, profissionalização ou especialidade tende agora a ser encarado como um mero biscate para desenrasque da vida de alguém e ora se biscateia aqui, como ora se biscateia ali, sem qualquer preparação.

Os novos biscateiros parecem saber de tudo sem saber de nada e aprendem de ouvido, uma coisinha aqui, uma coisinha ali e logo debitam de cátedra ou cagam de alto, como se preferir, e tal como o biscateiro manual, até conseguem impressionar, com artes de lábia, quem sabe pouco ou nada do assunto. E com esta postura de biscateiro engajado acham-se aptos a qualquer sapatinho, mascarando a sua incapacidade com uma arrogância sem chá de dono da chave da retrete. Vestem uma roupinha nova, põem um ar sério, vomitam umas trivialidades e são uns doutores de se lhes tirar o chapéu sem ter posto pé num claustro universitário ou encartados numa qualquer coisa despropositada. O novo biscateiro faz lembrar aquelas figuras típicas das companhias de circo rascas, o faz tudo, que à hora de início do espectáculo corta os bilhetes à porta, minutos depois já aparece pelas bancadas como vendedor de nougat de amendoim, leques e bugigangas e números depois surge como a partenaire dançante de meia rendilhada do faquir ou do ilusionista. É a polivalência astuta do biscateiro manual, que não se faz rogado a tarefa nenhuma. Tanto arranja canos, como muda instalações eléctricas, forra telhados, o que quer que dê para se desenrascar. O novo biscateiro também é ardiloso, temerário e catedrático afoito em qualquer área, ainda que não risque nada em nenhuma. E mesmo que do seu biscate não resulte nada produtivo ou de interesse vai-se safando, debicando aqui e ali, nas novas artes em que já não é preciso saber nada.

Há coisas que fazem o biscateiro borrar-se nas calças. Uma é não haver qualquer biscate e ter de viver como vivem os outros, bem sabendo que se não tiver amigos ou usar a maquilhagem certa, a desocupação ou o trabalho menor será o seu destino fatal. Outra é ser confrontado por quem sabe da poda, deixando a nu a sua incompetência biscateira. Dai que, alçado ao biscate, se tenda a reunir de outros comparsas para que possa sobressair sem desnudar a sua inutilidade.

Problemático é quando a coisa dá barraca ou o cliente se apercebe de que, para lá de todas as maquinações biscateiras, o artigo que mandou reparar afinal não funciona, qual contrafacção do comércio oriental, correndo o biscateiro o risco de ter de dar a mão à palmatória ou de ser trocado por outro para que tudo fique na mesma.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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