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Artigo de Opinião

Economista

23/01/2025 08:00

O equilíbrio global de poder está a mudar, e em nenhum outro lugar isso é mais evidente do que na dinâmica em evolução entre o G7 e os BRICS. Por um lado, o G7 representa o reduto tradicional do domínio económico ocidental, incluindo as democaracias industrializadas mais avançadas do mundo. Por outro lado, os BRICS são uma coligação de economias emergentes que rapidamente ganhou proeminência, reformulando a narrativa da governação global. A questão já não é se os BRICS podem rivalizar com o G7, mas como esta rivalidade está a redefinir a política e a economia internacionais.

O G7, com as suas raízes na ordem do pós-Segunda Guerra Mundial, tem sido historicamente o guardião das políticas económicas globais. Os seus membros têm exercido uma enorme influência, estabelecendo as regras do comércio internacional, das finanças e da diplomacia. No entanto, este domínio é cada vez mais desafiado pelos BRICS, uma coligação de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que representam coletivamente quase metade da população mundial e uma parte significativa do PIB global.

A força económica do bloco BRICS (incluindo novos membros) não pode ser subestimada. O seu PIB combinado, medido em paridade de poder de compra (PPC), ascende a 63,2 biliões de dólares, ultrapassando os 52,3 biliões de dólares do G7. Em sectores como a indústria transformadora, os países BRICS produzem mais de 40% da produção mundial, dominando cadeias de abastecimento essenciais. O seu papel na agricultura é igualmente significativo, contribuindo com 42% do trigo mundial, 52% do arroz e 46% da soja, o que os torna indispensáveis para a segurança alimentar global.

Em contrapartida, o G7 tem visto o seu domínio económico relativo diminuir, sobretudo porque os mercados emergentes ultrapassam as economias avançadas em termos de crescimento. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os países BRICS serão responsáveis por uma parte substancial do crescimento económico mundial nos próximos anos, prevendo-se que só a China contribua com 22% desta expansão.

As bases ideológicas do G7 e dos BRICS reflectem as suas visões contrastantes da governação global. O G7 continua a defender uma ordem internacional liberal e baseada em regras, mas os críticos argumentam que este modelo perpetuou as desigualdades, marginalizando as nações em desenvolvimento. Os BRICS, por outro lado, defendem uma ordem mundial multipolar, dando ênfase à soberania.

Para muitos países do Sul Global, os BRICS representam um contrapeso há muito esperado à hegemonia ocidental. Historicamente marginalizadas nos fóruns internacionais, estas nações veem agora no BRICS uma oportunidade de participar em pé de igualdade. A abordagem inclusiva do bloco, sem restrições ideológicas ou geopolíticas, contrasta fortemente com a exclusividade frequentemente associada ao G7.

Apesar das suas realizações, o BRICS enfrenta desafios consideráveis. A diversidade do bloco, tanto em termos de estrutura económica como de interesses geopolíticos, pode ser uma faca de dois gumes. Os desacordos internos, particularmente entre a China e a Índia, correm o risco de minar a sua coesão.

Porém o jogo G7 vs BRICS não é um de soma zero. Em vez de um bloco triunfar sobre o outro, a competição entre eles reflete um mundo em transição. A ascensão dos BRICS assinala uma ordem global mais equilibrada, em que as vozes do Sul Global já não são abafadas pelas do Norte Global. Ao mesmo tempo, a influência duradoura do G7 recorda-nos a importância dos quadros estabelecidos para a estabilidade e a cooperação.

No fim do dia os verdadeiros vencedores serão aqueles que conseguirem navegar nesta paisagem em evolução, tirando partido dos pontos fortes de ambos os blocos para promover um futuro global mais inclusivo, equitativo e sustentável.

“Será que o G7 desempenha realmente um papel importante para além de proporcionar oportunidades fotográficas aos líderes do G7? Em caso negativo, não deveria o G7 reconsiderar novas opções? Não faria mais sentido que alguns países da UE considerassem também a hipótese de aderir aos BRICS? Neste momento, isso é impensável. Em breve, tornar-se-á pensável.” – Kishore Mahbubani, antigo Representante Permanente de Singapura para a ONU e antigo Presidente do Conselho de Segurança da ONU.

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