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Artigo de Opinião

Directora Business Development

6/11/2021 08:01

O questionamento vinha carregado de boas intenções, curiosidade ou simplesmente falta de criatividade por parte dos adultos para encetar melhor conversa com os pequenos.

Professora, jornalista, cantora… foram algumas das fantasias criadas na minha mente enquanto petiz. Engraçado como o futuro revelou-me uma profissão onde de certa forma cabem todas as estas áreas, sendo que todas elas têm em comum a comunicação.

Ser psicóloga é observar, amparar e guiar seguindo lado a lado. Mostrar, como um espelho, aquilo que o outro não é capaz de visualizar sozinho. É ser investigadora de histórias, de almas. É auxiliar e encorajar a encontrar novos caminhos, novas possibilidades. É fazer perguntas, incentivar à criação de novos futuros. É possibilitar a esperança. E se fosse possível? E se não houvesse limitações na nossa mente quanto ao que somos capazes de realizar?

E se mantivéssemos para sempre aquela inocência de criança, aquele super-poder de ser tudo e de poder ter tudo o que sonhássemos?

Parece utopia aos nossos olhos de crescidos cansados e muitas vezes desiludidos com os nossos próprios erros e cansaços. Os adultos da nossa vida, fazendo o melhor que sabiam e recorrendo de forma inconsciente aos seus próprios paradigmas e padrões limitadores, foram nos incutindo a ideia de que não podemos ter tudo o que queremos, que a vida é difícil e que sonhar não paga as contas. E nós crianças, altamente permeáveis ao discurso das nossas figuras de referência que aos poucos se vai transformando nas nossas próprias narrativas internas, vamos absorvendo essas visões do mundo e paulatinamente vamos nos tornado mais cépticos, mais descrentes nos nossos super-poderes ou como algumas pessoas que estão mais amargas lhe chamariam, mais realistas.

Ser psicóloga é ajudar a resgatar os sonhos que um dia esta criança teve. Mostrar que há esperança de viver uma vida mais plena, mais realizada, mais conectada com os nossos interesses e talentos.

Ser psicóloga é também ajudar os adultos a ganharem consciência do impacto que têm na vida dos seus filhos, que os observam atentamente, ávidos por um exemplo de coragem, de encorajamento e por ouvir um "tu consegues!".

No meu trabalho com mães trabalhamos muito o resgate da pessoa, fazemos a pesquisa de quem aquela mulher é realmente, de quem se esqueceu de ser pelo caminho, que criança foi, o que adorava fazer quando estava a crescer, que sonhos lhe foram coartados pela aculturação e pela educação, quem se esquece que é no meio de tantas exigências e papéis que lhe são exigidos como mãe.

Muitas vezes, no dia a dia de uma mãe, todas as tarefas são concluídas: os recados para a escola, a prenda de anos para a festa do amigo, o jantar, as compras de supermercado, a roupa preparada, dar colo aos filhos, entre tantas outras e uma das mais importantes de todas vai ficando lá no constantemente no final da lista, sendo substituída por outras mais urgentes ou aparentemente mais prioritárias, que é o cuidar dela mesma.

Esta mãe tem tempo para si? Consegue parar para respirar um pouco conscientemente no seu dia a dia? Consegue almoçar ou mesmo só tomar café com uma amiga regularmente? Consegue fazer coisas que a entusiasmam e divertem? Infelizmente, muitas vezes esta resposta é não. E até parece que estamos conformadas com esta realidade, apesar de acarretar muito cansaço, frustração e desencanto pela vida.

É urgente desenvolvermos o nosso amor próprio. Urge aprendermos a deixarmos de ser mães mártires que tomam para a si a esmagadora maioria das tarefas e decisões relacionadas com os filhos. É urgente aprender a delegar algumas tarefas, abdicar um pouco da necessidade de controlar o desfecho de todas as ações. É urgente parar, respirar e observar. É importante fazer-se algumas perguntas.

Estou satisfeita(o) com a vida que estou a viver neste momento e com a forma como me sinto na maior parte do tempo?

Se a resposta for não, há que pedir ajuda para reaprender a sonhar.

E sim, é possível imaginar e criar novas soluções para a obra - prima mais importante que temos em mãos, a nossa própria vida.

É possível vivermos uma vida mais leve e mais carregada de significado.

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