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Artigo de Opinião

17/10/2022 06:23

Também não é novidade que desde o princípio deste século têm subido de tom as críticas à instituição, como portadora de uma moral repressiva, devido à sua posição sobre a homossexualidade e o celibato e pelos seus ensinamentos sobre sexualidade, pela ausência de sacerdotes mulheres, críticas agravadas particularmente pela forma como tem tratado os casos de abuso sexual de menores envolvendo clérigos. Enquadremos.

O catolicismo é o segundo maior corpo religioso do mundo após o sunismo (o maior ramo do Islão), sendo que os católicos representam cerca de metade de todos os cristãos. Com o baptismo católico é adquirida a qualidade de membro da Igreja, tratando-se de uma categoria em que cerca de 1,3 bilhão de pessoas se encaixavam no final de 2018, representando 18% da população mundial.

Segundo dados da Igreja, no final de 2019 havia 467.938 clérigos ordenados, incluindo 5.364 bispos, 414.336 padres (diocesanos e religiosos) e 48.238 diáconos permanentes. Os ministros não ordenados incluíam 3.157.568 catequistas, 367.679 missionários leigos e 39.951 ministros eclesiais leigos. Por sua vez, os católicos que se comprometeram com a vida religiosa ou consagrada em vez do casamento ou em celibato único, incluem 50.295 homens religiosos e 630.099 mulheres religiosas.

Em termos de organização, a missão da Igreja Católica é servida por dioceses na Igreja Latina ou eparquias nas Igrejas Católicas Orientais, cada uma supervisionada por um bispo. Segundo dados do Anuário Pontifício 2021 elaborado pelo Escritório Central de Estatística da Igreja, a Igreja Católica possui 3.026 dioceses espalhadas pelo mundo. As dioceses são divididas em paróquias, cada uma com um ou mais padres, diáconos ou ministros eclesiais leigos. De acordo com estimativas de 2016, existem 222 mil paróquias em todo o mundo. A Igreja administra ainda 115.352 Institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo (5.167 hospitais; 17.322 dispensários; 648 leprosários; 15.699 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes; 10.124 orfanotrófios; 11.596 jardins da infância; 14.744 consultores matrimoniais; 3.663 centros de educação e reeducação social), além de 36.386 instituições de outros tipos.

Resumindo, um mundo!

Agora vamos a outros números.

Em 2021 foram reveladas as conclusões de um relatório sobre abusos sexuais a menores pelo clero da Igreja Católica Francesa desde 1950. Contaram-se 216.000 vítimas e pelo menos 2.900 a 3.200 abusadores. Na Alemanha, um relatório efetuado pela Conferência de Bispos Alemã de 2018 admitia a existência de "pelo menos" 3.677 casos de abusos sexuais de menores por membros da Igreja católica entre 1946 e 2014. Em junho deste ano, foi revelado mais um número, relativo à diocese de Münster, onde 610 crianças foram abusadas sexualmente por padres católicos entre 1945 e 2020. Em março deste ano, a Igreja Católica espanhola anunciou o registo de mais de 500 mil casos de abuso sexual de menores ocorridos na instituição naquele país. Em Itália, segundo o "The Guardian", as estimativas não oficiais indicam que o país pode ter o maior número de vítimas de padres pedófilos no mundo. Na Irlanda, o "Ryan's Report" retratou o tratamento da Igreja e do Estado às crianças em instituições entre 1914 e 2000. O relatório contém pormenores chocantes na escala de abuso físico, sexual e emocional sofrido por crianças em instituições administradas por várias ordens católicas, e identificou mais de 1.000 vítimas homens e mulheres e cerca de 800 abusadores conhecidos. Em 2002, um estudo encomendado pela Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos da América reportou cerca de 10.667 indivíduos que denunciaram casos de abuso sexual de menores por padres da Igreja Católica entre 1950 e 2022. No México, um dos países com maior número de católicos no mundo, a Conferência Episcopal anunciou, em 2020, que está a investigar 426 padres por abuso sexual de menores e outros crimes.

Na realidade nunca iremos saber a real extensão das vítimas e dos seus abusadores. E é esta potencial dimensão que nos deixa sem respiração. E é exatamente por isto que por diversas vezes nos exaspera a reação ou posição dos responsáveis.

Assente-se que é muito importante que não se confunda à árvore com a floresta. De facto, a pedofilia nada tem a ver com a condição de sacerdote, mas sim com a natureza humana, com comportamentos desviantes e com a oportunidade. E é nesta condição que os horrores se sucedem. De pessoas que têm o modo e a oportunidade para se impor sobre crianças e jovens indefesos, cuja condição social os remete aos cuidados das inúmeras instituições católicas.

Perante isto é dever da Igreja dar prova de severidade extrema com os sacerdotes que traem a sua missão e com a hierarquia que os protegeu. Que faça aquilo que se exige a qualquer outra instituição: permitir que os responsáveis sejam punidos. Sob pena de ela própria, pagar pelo pecado dos outros.

Luís Miguel Rosa escreve à segunda-feira, de 2 em 2 semanas.

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