MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

24/12/2025 08:00

Sabemos bem: na Madeira, Dezembro não é apenas mais um mês no calendário. É um tempo próprio. Ao longo das semanas, a ilha abranda. Os dias ganham outro ritmo, as prioridades mudam. A Festa aproxima-se e tudo começa a girar em torno dela... Os preparativos, os regressos a casa, as tradições repetidas. O resto fica suspenso. Dezembro é para viver a Festa, não para tomar grandes decisões.

Nos dias 23 e 24, esse ritmo atinge o seu auge. Há compras de última hora, ninguém se mexe no Madeira Shopping, listas ainda por fechar, mesas preparadas com um cuidado quase cerimonial. A carne de vinha-d’alhos já está a marinar, a poncha fresca espera no frigorífico, a casa enche-se de gente. Tudo parece importante. E, no meio dessa intensidade, instala-se um acordo silencioso: o que é difícil fica para depois.

Depois chega a semana estranha entre o Natal e o fim do ano. Os dias em que o tempo abranda ainda mais e as conversas passam inevitavelmente para o que vai mudar “no próximo ano”. É aí que Janeiro ganha estatuto de promessa coletiva. É em Janeiro que vamos voltar ao ginásio, aprender algo novo, deixar de fumar, comer melhor, ser mais disciplinados.

Mas esta ideia de recomeço tem menos de esperança do que parece. Tornou-se uma forma socialmente aceite de adiamento. Dizemos que começamos em Janeiro e, com isso, damos-mos permissão para não começar hoje. Se falhar agora, não faz mal - o verdadeiro início ainda não chegou. Janeiro transforma-se num álibi para continuar tudo igual durante mais algum tempo.

Já sabemos que as coisas importantes não mudam por decreto nem por data marcada. A mudança real é como o mar a moldar a costa: lenta, insistente, sem espetáculo. Não surge em resoluções bem formuladas, mas em decisões pequenas, repetidas, muitas vezes invisíveis. É desarrumada, imperfeita e exige paciência - uma virtude que a vida insular conhece bem.

As transformações mais duradouras começam em dias banais. Numa terça-feira qualquer. No dia em que se vai ao ginásio mesmo sem vontade. Na primeira manhã sem um cigarro. Não pedem autorização ao calendário nem esperam pelo momento ideal.

E se, a meio de Janeiro, desistires, não te sintas mal por isso. Isso não faz de ti fraco, faz de ti humano. O problema nunca foi parar, mas acreditar que parar significa falhar. Mantém a intenção. E começa outra vez noutro dia qualquer, sem culpa.

A mudança não precisa de datas perfeitas. Precisa apenas de continuidade. E, se há coisa que Dezembro nos ensina, é que os ritmos certos não se forçam; respeitam-se. Começa quando conseguires. Recomeça quando for preciso.

Até 2026, caro leitor. E boas festas.

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